Teses

De Indisciplinar
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BRANDÃO, Marcela Silviano

Artesanias Construtivas e Urbanas: Por uma tessitura de saberes

“Diante da percepção de que há na prática arquitetônica uma distância preocupante entre projeto, construção e uso do espaço, buscamos formas de aproximação entre essas etapas a partir da cartografia das controvérsias sobre essa problemática, tendo encontrado duas formações de grupo que abordam a questão a partir de pressupostos distintos. A primeira se articula a partir dos ideais da ciência, do mercado e da indústria, ou seja, dos valores hegemônicos. A segunda se afirma em uma perspectiva sociológica, tendo nos processos participativos sua via de aproximação. Apesar das diferenças, pudemos localizar tangências entre as duas formações de grupo cartografadas, que nos conduziram a um embaraço em relação à questão: ambas se encontram atreladas, de alguma maneira, às determinações do Estado, hoje Estado-Mercado, e em ambas há um certo enrijecimento de pressupostos. Encontramos uma possibilidade de saída dessa encruzilhada nas ações autônomas e subversivas que surgem apesar e para além das intenções designadas na representação do espaço, à revelia do planejamento. Inspirados em Boaventura de Souza Santos, denominamos essas ações de Artesanias Construtivas e Urbanas, e apostamos na possibilidade transformadora do mapeamento dessas artesanias. Imbuídos dessa percepção, experimentamos na academia práticas arquitetônicas que se desenvolvessem a partir de artesanias cartografadas. Percebemos, então, serem necessários alguns deslocamentos conceituais importantes para a tessitura de uma rede aberta e sempre conectável, na qual os saberes construtivos e arquitetônicos, científicos e cotidianos possam ser atravessados constantemente por questões e decisões políticas e poéticas, simultaneamente.”

CARNEIRO, Karine Gonçalves

MORADORES DE RUA E PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO: análise sobre Bogotá e Belo Horizonte sob uma perspectiva genealógica

“Esta tese busca, por meio de um procedimento genealógico nos moldes foucaultianos atrelado a uma pesquisa de campo alicerçada na etnografia, identificar e analisar os mecanismos,estratégias e táticas de poder/saber que interferem ou atual – no âmbito das intervenções sobre o urbano em função do planejamento público – sobre os modos de vida dos moradores de ruanas cidades de Belo Horizonte, no Brasil, e de Bogotá, na Colômbia, no que concerne às suas relações com os espaços públicos da cidade. Nessa perspectiva, a intenção foi a de conduzir um olhar para o espaço urbano a partir de corpos e pessoas compreendidos não como problemas,mas como parte de conflitos, encontros, embates, pertencimentos, estratégias, formas de sujeição, exclusões e regimes de verdade, numa trama cotidiana produtora de saberes e de espaços heterotópicos. Para isso, a partir do próprio dia a dia experimentado pelos moradores de rua e pelo histórico das lutas que os envolvem, buscou-se compreender os jogos de poderes e saberes dos quais essas pessoas fazem parte, no intuito de atingir uma maneira de se pensar o urbanismo e a produção do espaço de forma crítica. Como resultado foram identificados: os mecanismos, estratégias e táticas de poderes/saberes que, ao longo do tempo, têm permeado avida dos que moram nas ruas; os modos como, na atualidade, o neoliberalismo – principalmente por meio do empreendedorismo urbano – tem provocado alterações nos papéis dos envolvidos na produção do espaço; e os conceitos historicamente atrelados à teoria e à prática do planejamento urbano, tais como espaço público e espaço privado, que não têm dado conta de lidar com as nuances que envolvem determinados modos de vida, principalmente os dos moradores de rua”

FERRARI DE LIMA, Júnia Maria

Dispositivo urbanismo: entre a governamentalidade e a resistência

“De espaço do trabalho (cidades pré-capitalistas) a espaço da produção (cidades industriais), até os atuais espaços de consumo e concorrência (cidades neoliberais), o que temos visto historicamente nas nossas cidades é uma sucessão de acordos e alianças explicitados (ou não) na forma de planos e regras que, na maioria das vezes, acabam por fomentar práticas controladoras de uso e ocupação do solo. Ou seja, um urbanismo que atua, não como um meio democrático e emancipador de transformação do território, mas como um mecanismo a serviço de uma razão governamental, ou, segundo Foucault, de uma “governamentalidade”.
A hipótese a ser discutida é que o urbanismo tem se constituído historicamente como um dispositivo que opera a partir de práticas discursivas e não discursivas, e cujo objetivo (ou função estratégica) é o controle e a ordenação dos corpos no território – onde se trabalha, reside, circula, consome, etc.-, de forma a garantir a melhor economia para as populações. Este é o argumento que se vai procurar construir ao longo deste trabalho tendo como referencial teórico alguns conceitos de Foucault.”

FREITAS, Daniel Medeiros de

DESVELANDO O CAMPO DE PODER DOS GRANDES PROJETOS URBANOS DA REGIÃO METROPOLITANA DE BELO HORIZONTE

“O trabalho desvela a produção dos Grandes Projetos Urbanos na Região Metropolitana de Belo Horizonte entre os anos 2000 e 2015. Para tal, utiliza como método a teoria bourdiana de campo de poder, tendo como objetivo principal identificar as relações sociais que estruturaram a produção dessas intervenções. Permeia a investigação, um olhar propositivo direcionado para o papel dos agentes de planejamento urbano e seu alinhamento com o conceito de Cidade Justa. Em um primeiro momento, o trabalho apresenta a vinculação entre este tipo de intervenção urbana e as recentes inflexões na política econômica global, relacionadas a processos de globalização e neoliberalização, identificando quais são e qual a intensidade das determinações econômicas e políticas sobre a produção desse tipo de projeto. Em seguida, o conceito de Grande Projeto Urbano é investigado a partir de suas características formais e processuais invariantes, com foco no impacto sobre a política urbana e atento ao modo como este tipo de projeto se alinha com a retomada da urbanística formal. Completa esta primeira parte de delimitação do tema, a análise do processo de urbanização da RMBH, com destaque para as grandes intervenções realizadas no tecido urbano e para o modo como ocorreu a convergência entre as forças econômicas e os conceitos, instrumentos e práticas do campo do planejamento urbano local. Esta parte inicial da pesquisa foi construída concomitante à análise do conjunto de vinte e seis projetos selecionados, apresentados a partir de suas características invariantes, agentes, processos decisórios, impactos territoriais e relação com a teoria urbana. A partir dessa análise, o trabalho mergulha no desvelamento do campo, descrevendo suas estruturas relacionais e disposicionais, com ênfase no capital e no habitus de seus principais agentes. Finalmente, as alternativas propostas são estruturadas com base na definição de um vetor propositivo a partir do qual são articuladas táticas, estratégias e possibilidades de intervenção através, sobretudo, da atuação dos planejadores urbanos na estrutura do campo de produção dos GPUs.”

MAIA, Marcelo

Cidade Instantânea (IC)

“Sugere-se a hipótese de uma Cidade Instantânea identificada no cotidiano em situações condicionadas por tecnologias de comunicação e informação, e especialmente a computação ubíqua, também conhecida como computação pervasiva ou computação ambiente. A investigação aponta para o entendimento de uma Cidade Instantânea que emerge coletivos sem escala, sem localização e com fronteiras e limites extremamente frágeis, fluidos e temporários. A Cidade Instantânea se infiltra em todas as formas de cidades existentes sem anulá-las; substituí-las. A Cidade Instantânea não tem um objetivo traçado, ela é pura subjetividade que ganha força e presença nas multidões de indivíduos conectados.”

MAYER, Joviano Gabriel Maia

De pé na encruzilhada. Por uma cartografia contra-colonialista.

"O presente trabalho parte de saberes encruzados entre teoria e prática ativista cartográfica, tem fundamento assentado na oralidade e se inspira na perspectiva contra- colonialista, como nos ensina Nêgo Bispo. Firma contranarrativas ao colonialismo a partir do modus pedalandi experimentado nos rolezinhos de bike pelos espaços comuns que compõem esta narrativa-confessional-polifônica, fruto de oralidade-transcrita. No percurso, ocupações de moradia, especialmente Dandara; Mofuce (Associação Casa do Estudante); Parque JA (Jardim América); Espaço Comum Luiz Estrela; Santa Tereza e Kilombo Souza. Lutas expressivas e simbólicas no seio da cidade-empresa que fazem de Belo Horizonte um caso interessante à reflexão sobre formas contemporâneas de reexistir e construir alternativas autônomas que possam potencializar o contra-ataque quilombista (Beatriz Nascimento, Lélia Gonzáles e Abdias Nascimento) à supremacia-branca- patriarcal-colonialista (bell hooks). Precedentes importantes no contexto das lutas pelo direito à cidade que revelam outros caminhos possíveis de enfrentamento à desterritorialização colonial inerente à lógica de produção espacial da cidade-empresa. A reafirmação do projeto colonialista, com seus golpes materiais e simbólicos, aliada ao fascismo instaurado no Brasil, nos cobra uma postura de transgressão, compromisso, ousadia e criatividade para produzir inéditos viáveis (Paulo Freire) e superar esta situação limite caracterizada pelo genocídio dos povos afropindorâmicos (necropolítica, epistemicídio) e destruição ambiental. Trata-se, portanto, de uma (co)investigação que busca fabular sobre o como fazer? Como reexistir cartograficamente, especialmente em tempos de guerrilha de bisturi e desencantamento. Para tanto, o texto se abre à livre- experimentação, compartilhamentos e atravessamentos por vozes e saberes ancestrais a partir de conversas transcritas com Pai Ricardo de Oxóssi (Casa de Caridade Pai Jacob do Oriente/MG), Sarah Marques (Caranguejo-Tabaiares/PE), Glaucia Cristine (Kilombo Souza/MG) e Nêgo Bispo (Kilombo Saco-Curtume/PI). Compõem ainda estes manuscritos outros formatos orais, tais como entrevistas, palestra, texto-performance, carta, poesia. É preciso ter esperança e manter o axé elevado.
A encruzilhada é o umbigo do mundo. Por isso, partimos dela como território de confluência energética (Cidinha da Silva), potência e movimento."

RENA, Alemar Silva

Comunidades essenciais, legiões demoníacas: multidão, literatura e riqueza comum

“A presente tese consiste de uma reflexão sobre a multidão de um ponto de vista ontológico, político e estético, tendo como referência a literatura e outras práticas linguísticas multitudinárias. O que está em jogo é uma crítica de algumas tendências do pensamento, do imaginário e da política moderna que com frequência conceberam a multidão (HARDT e NEGRI) — legião de corpos singulares e desejantes — como massa impotente ou comunidades essenciais, minando a produção de riqueza comum. Antagonizando tais tendências, a determinação que nos move é como hoje aventar, no âmbito da produção linguística, da economia imaterial e da biopolítica, as possibilidades de uma comunialidade que não preceda a si mesma (NANCY), mas que se articule num agenciamento não essencial, não teleológico e colaborativo que produz o comum enquanto se produz. Defendemos que, se a multidão há muito tem sido vista como demoníaca, isso não se dá porque ela constitui uma afronta ao ideal da democracia real, mas, precisamente ao contrário, porque com frequência faz desse ideal uma alternativa tangível e “monstruosa” em face da transcendência do direito constituído, do biopoder (FOUCAULT) e do capital. Lançando mão de uma metodologia expressamente cartográfica, buscamos trazer à tona não somente algumas aporias que assombraram o pensamento e o imaginário moderno diante da emergência política do grande número, mas igualmente conceitos e reivindicações hoje centrais para se pensar criticamente a produção de linguagens e de riquezas simbólicas para além de noções em franca crise de sentido como progresso, civilização, Povo nacional, identidade, classe, alta/baixa cultura, originalidade, indústria cultural, espetáculo, copyright, cânone, etc.”

TOSTES, Simone Parrela

Fabulações: Espaço e produção de diferença

“Esta tese tem por objetivo abordar as conexões entre espaço, subjetividade e criação do novo em seus processos constitutivos de montagem, desmontagem e remontagem de forças. Espaço e subjetividade são pensados em suas interações mútuas e em conexão com o campo caótico e heterogêneo de forças. A tarefa da tese consiste em uma prática de sentidos capaz de produzir diferença e singularização em relação à produção do espaço e dos modos de vida sob o capital. A problematização, procedimento escolhido que permite desestabilizar configurações homogêneas, tece uma aliança com a fabulação, aqui tomada em sua dimensão ética, política e estética de exercício de criação que permite articular práticas e procedimentos singulares em conexão com os devires menores do espaço. O percurso da tese se faz na interlocução com estudiosos que tem no espaço o foco de suas abordagens, em especial Milton Santos e Henri Léfèbvre e também com pensadores escolhidos pela problematização que empreendem dos modos de pensar, eventualmente abordando o espaço em suas formulações. De modo especial Gilles Deleuze e Félix Guattari com os conceitos de fabulação, cartografia, micropolítica, diferença, devir e processos de produção e subjetivação; Michel Foucault com os conceitos de genealogia, e subjetivação; Michel de Certeau com as práticas desviantes; Maurice Blanchot, Anne Cauquelin; Marcio Sales com a caosmofagia e também Maurizio Lazzarato; Michael Hardt e Antonio Negri, Regina Passos e Eduardo Benevides, dentre outros. A tese se desenvolve em quatro partes (escrita, teoria, subjetivação e lugar-mundo) entremeadas por cinco fabulações (casa em reforma, sala de aula, movimentos de rua, edifício em construção, mini atlas de espaços-mundos). Entre essas duas séries não há relação de explicação ou comprovação, mas produção de diferença a partir de porosidades que permitem às problematizações se atravessarem e se conectarem em novos arranjos e novos sentidos.”


SÁ, Ana Isabel Junho Anastasia de

Orçamentos Participativos, Cidadania e Geoinformação: potencialidades e diretrizes metodológicas a partir da experiência de Belo Horizonte

Esta tese pretende contribuir para o debate sobre a aplicação das tecnologias de informação e comunicação (TICs) a políticas públicas participativas por meio de produtos de natureza metodológica — roteiros e diretrizes —, apoiados em suporte tecnológico. O principal objeto de estudo são os Orçamentos Participativos (OPs) Digitais ou Semi Digitais e, de maneira mais específica, a experiência do OP Digital de Belo Horizonte entre 2006 e 2013. Propôs-se analisar sua realização e verificar possíveis contribuições de ferramentas e métodos como a Geovisualização; o VGI (Volunteered Geographic Information), o crowdsourcing e as Infraestruturas de Dados Espaciais (IDEs) para a sua dinâmica. A partir desta análise, foram propostas diretrizes metodológicas para o aprimorar o processo de participação em práticas similares. Como abordagem metodológica geral, adotou-se a estrutura de estudos de caso, combinando as modalidades descritiva e exploratória. Os OPs, surgidos em Porto Alegre no início dos anos 1990 e rapidamente disseminados pelo Brasil e pelo mundo, constituem um marco importante para o debate das políticas urbanas participativas, ainda que suas diferentes experiências apresentem variações significativas e possibilitem graus diversos de ampliação democrática. Belo Horizonte aparece junto a Porto Alegre como referência de consolidação dos OPs, que perduraram por várias administrações de diferentes partidos, mobilizando um número considerável de participantes entre 1994 e 2016. Em 2006, a cidade inaugurou o OP Digital, experiência inicialmente considerada como pioneira, que atraiu a princípio altos índices de participação, mas registrou, em seguida, uma queda drástica na adesão. Estudos anteriores apontam diversas hipóteses sobre o declínio do OP Digital em BH, mas há uma convergência na avaliação de que o processo de participação falhou ao se basear em um modelo de eleição simples entre opções pré-definidas, excluindo a possibilidade de construção coletiva de propostas e esvaziando o papel ativo do cidadão na deliberação. Não se avalia, no entanto, que os OPs possam ter sucesso exclusivamente por meio da participação presencial e que a participação online seria por princípio incompatível com sua natureza. Buscou-se, portanto,desenvolver diretrizes para a reestruturação do método de participação para OPs Digitais ou Semi Digitais, concebendo a aplicação das TICs como suporte a um processo híbrido, envolvendo tanto a participação presencial quanto online e incorporando recursos de Geovisualização e das IDEs em busca de uma estrutura que forneça melhores condições para a deliberação coletiva.