Subjetividade e singularização
Segundo Rolnik (2005), este processo de produção de subjetividade capitalista é produzido por uma poderosa máquina capitalista, mas que poderia ser combatida através de processos de singularização, recusando os modos de manipulação biopolítica, para construir novos modos de vida: modos de sensibilidade, modos de relação com o outro, modos de produção, modos de criatividade, que produzam uma subjetividade singular. Produzir dispositivos que possam transformar afetivamente a sociedade, portanto, para a autora "não é utópico considerar que uma revolução, uma mudança social em nível macropolítico e macrossocial, concerne também a produção da subjetividade, o que deverá ser levado em conta pelos movimentos de emancipação." (Rolnik, 2005: 34) Assim, poderíamos pensar a partir daqui, em construção de dispositivos cartográficos enquanto processos biopotentes insurgentes. Imaginar que a cartografia, para além de ser um método de investigação que envolve uma experiência cotidiana dissolvendo as relações entre micro e macropolítica, entre sujeito pesquisador e objeto pesquisado, também pode existir como um dispositivo, algo que compõe metodologias, estratégias e práticas, como maquinação e agenciamento de ações de copesquisa ativista.
Um dispositivo é composto por linhas de subjetivações, que também é um processo, uma produção de subjetividade. Ele se relaciona à irrupção naquilo que se encontra bloqueado de criar, seria um teor de liberdade em se desfazer dos códigos que procuram explicar, ele tensiona, movimenta, desloca para outro lugar, provoca outros agenciamentos. Ele é feito de conexões e, ao mesmo tempo, produz outras conexões. O dispositivo repudia os universais e se desloca sempre pra apreender o novo através de mudanças de orientação. "A indicação parece-nos clar: o dispositivo alia-se aos processos de criação e o trabalho do pesquisador, do cartógrafo, se dá no desembaraçamento das linhas que o compõem - linhas de visibilidade, de enunciação, de força, de subjetivação." (Barros, 2009: 78) Dessa maneira, os dispositivos de ativismo cartográfico fazem parte do leque de possibilidades de pesquisa multitudinária já que, a multidão enquanto organização biopolítica, é o que pode construir uma resistência positiva, biopotência criativa e inovadora, produzindo e sendo gerada pelo desejo do comum. Movimentos multitudinários consistem, assim, em singularidades ativas e interligadas que, a partir de sua capacidade criativa, fazem frente ao domínio do Império global a partir dos próprios sistemas - também rizomáticos - por ele utilizados para sujeitá-las. (Rena & Berquó: 2014)