Ativismo cartográfico

De Indisciplinar
Revisão de 12h48min de 26 de janeiro de 2015 por Indisciplinado (discussão | contribs) (Criou página com 'Dentro dos dispositivos e métodos possíveis para construção destas resistências em rede, podemos recortar o ativismo com suas várias formas de expansão global. Dentro d...')
(dif) ← Edição anterior | Revisão atual (dif) | Versão posterior → (dif)
Ir para: navegação, pesquisa

Dentro dos dispositivos e métodos possíveis para construção destas resistências em rede, podemos recortar o ativismo com suas várias formas de expansão global. Dentro do universo da arte, da arquitetura, do urbanismo e do design, o conceito pode ser delimitado pelo termo artivismo, quando constrói-se uma ação estética ou artística visando mudanças sociais ou políticas. Neste sentido, nos interessam as ações que ativam novas formas de perceber e de se apropriar da cidade contemporânea e que através das produções cartográficas apliam o potencial de abertura para práticas mais democráticas de experiência urbana. O artivismo cartográfico pode ser considerado, portanto, um artivismo que utiliza dos métodos da cartografia, não somente entendida como uma metodologia da geografia clássica territorial, mas como um processo metodológico adotado como um fazer político em estado bruto, um fazer insurgente, dinâmico, sempre processual e criativo.

o método da cartografia como um dispositivo de disputa embrenhado no modelos de cartografia convencional dos jogos políticos do poder. A cartografia social, crítica, entra neste campo de disputa construindo um saber biopotente que poderíamos finalmente definir por ativismo cartográfico. Quando estamos falando dos procedimentos artísticos, abre-se mais um caminho para falar em artivismo cartográfico. Este seria um modo de pesquisar-fazer que retira a prática acadêmica da neutralidade e a prática artística da linguagem ou da estética. O artivismo cartográfico, portanto, recusa a neutralidade e se constrói como uma prática política enquanto processo e como instrumento de luta enquanto dispositivo.

Estas cartografias podem também, gerar dispositivos e ferramentas que têm a capacidade de agenciar uma enorme quantidade de informação em forma de imagens especializando as informações advindas de uma observação da realidade (ou ação na realidade) concretizada em diversos níveis, sendo capazes de representar múltiplas configurações espaciais que podem ser de ordem física, social, política, econômica e ao mesmo tempo apresentar relações de dados que possam configurar-se de maneira crítica a realidade analisada. Compreende-se que a construção de cartografias englobam atitudes que são políticas à priori, desde o momento em que se escolher o que cartografar, como fazê-lo e como representar as informações coletadas. A maneira com que se integra o território às informações escolhidas, se relacionam às formas de fazer e implica em definir, contornar, delimitar espaços e dados de forma orgânica e intencional.

Estas cartografias ativistas são também performativas, práticas multitudinárias, no sentido de não serem adotadas como vanguardas culturais e artísticas dentro de projetos autorais no campo tradicional da arte. São práticas artivistas que fazem parte do que também denominados Urbanismo Performativo. São performativas, na medida em que sobrepõem novas camadas de ocorrência e criam abertura; e multitudinárias – não necessariamente sob o ponto de vista quantitativo da multidão como aglomeração de um grande número de pessoas –, mas sim pelo seu potencial em reunir e engajar, nesses momentos específicos, pessoas de diferentes grupos, cada qual com suas singularidades, na produção de uma experiência e de um espaço comuns. (Rena & Sá, 2013)

Para Santos (2012), estes processos cartograficos envolvendo comunidades em sitaução de vulnerabilidade, constituem um campo dialógico complexo e múltiplo formado pelo imbricamento de diferentes formas de intervenção que pode ser chamado de ativismos cartográficos. Pode-se pressupor, a importância de uma atenção maior ao que a arte vem produzindo com relação à cidade, às práticas artivistas e multitudinárias, às novas formas de apresentação/ representação e apropriações espontâneas do espaço urbano através de mapeamentos engajados que possam contribuir como um forte instrumental para a realização de projetos que tenham uma potência política espacial, realizando processos que englobem as complexidades da cidade neoliberal típica do Império e as relações entre produção arquitetônica e urbanística, mercado imobiliário e as múltiplas relações de poder, tudo isto atravessado pela biopotência própria da arte. Do ponto de vista prático, quando estas cartografias se transformam literalmente em mapas, podem se tornar ferramentas agenciadores de uma enorme quantidade de dados espacializando informações advindas de uma observação atenta e crítica da realidade, concretizada em diversos níveis, sendo capazes de representar múltiplas configurações espaciais que podem ser de ordem física, social, política, econômica e ao mesmo tempo apresentar relações de dados que possam configurar-se de maneira artística e inventiva a realidade analisada.

Estas propostas de mapeamento cartográfico e artivista, trazem uma evidente influência do pensamento situacionista, que pregava o combate à alienação produzida pela sociedade capitalista através da valorização das visões dos indivíduos que vivem as relações. O que se buscava, portanto, não era apeans mapear os grupos, mas sim, permitir aos grupos que eles próprios se mapeiem, e este processo de (auto) mapeamento ou cartografia colaborativa, segundo Santos, surge um “mapeamento situacional”. Na tentativa de romper com a passividade inerente à sociedade do espetáculo, dentro da qual os grupos desfavorecidos são transformados em espectadores e participantes passivos diante de um roteiro sobre o qual não tem qualquer poder de influência. Esta intenção em tornar o usuário cotidiano da cidade em cidadão ativo e produtor de novas espacialidades, atravessa a proposta de construção de novas ações artivistas, colabrativas conectadas às sociedades insurgentes.

Em substituição aos processos de cartografias convencionais adotados pelo urbanimos e pela geografia clássica, faz-se evidente que a construção de um mapa está sempre ligada a uma certa deformação da realidade, geralmente intencional, com fins determinados. Convencionalmente os modelos tradicionais de diagnóstico urbanos são baseados em mapas que costumam se destacar por determinar áreas homogêneas e caracterizá-las como a partir de critérios que apontam os problemas e as potencialidades do lugar. Esta forma de fazer própria do planejamento urbano tradicional pode ser contrastado e/ ou complementada por análises menos absolutas e supostamente neutras. É possível criar uma abordagem menos restritiva, podemos considerar o mapa como uma interpretação do território atravessado por distintas dimensões de análises e que portanto serve para ser recorrido de diversas maneiras. A riqueza de um mapa estará dada, então, enquanto permita que qualquer ponto dentro do mapa possa ser vinculado com qualquer outro ponto. O mapa é uma construção social, portanto supõe uma inclinação marcada pela subjetividade. Em última instância, um mapa terá as características que seu criador quiser imprimir e a informação do mesmo estará dirigida intencionalmente. O uso do cruzamento de informações de naturezas muito distintas, fazendo com que múltiplas representações e interpretações sobre o processo convirjam para o mesmo mapa é a forma como a complexidade da representação cartográfica possa resultar numa resistência à formas tradicionais de mapeamentos que são construídas pela cartografia hegemônica. É possível traçar cartografias subversivas em respostas às convenções cartográficas. Neste artigo, pretende-se citar exemplos de grupos desenvolvem trabalhos de artivismo cartográficos unindo os processos de cartografia enquanto método focado na experiência, utilizando dispositivos de transformação social, agenciando encontros entre artistas, arquitetos e outros pesquisadores advindos de diversos campos do conhecimento com comunidades e grupos de cidadãos envolvidos numa tentativa de enobrecer regiões, de segregar territórios, expulsão moradores e comerciantes de contextos em processos de valorização territorial, o que poderíamos chamar também de gentrificação. Acredita-se na potência deste encontro e dos processos artivistas como formação de um contingente biotecnológico que possa auxiliar na luta contra-imperial fazendo ampliar o caldo multitudinário global.