Cidade criativa

De Indisciplinar
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no contexto capitalista atual a cultura passa a adquirir grande importância em termos políticos e mercadológicos, relacionando-se intimamente com a construção das cidades espetaculares, cujo objetivo último seria a inserção das mesmas no cenário global. Por representarem verdadeiras âncoras desse processo, projetos ditos “culturais” são cada vez mais valorizados no mercado urbano. Nesses projetos, guiados por medidas pacificadoras de transformação urbana em cenário “higiênico” e consensual, o fomento ao turismo global conforma-se enquanto prioridade, em detrimento do atendimento das reais necessidades das comunidades locais. Isso aponta para mais um movimento de captura cognitiva por parte do sistema neoliberal, no qual a lógica cultural é expropriada e transformada, nesse caso, em recurso para o aumento do valor da terra nas cidades. Assim, agentes públicos e privados, aproveitando-se biopoliticamente da conotação (ver biopolítica), geralmente positiva, que os projetos culturais possuem frente à população, bem como dos incentivos fiscais relacionados a tais iniciativas, promovem verdadeiras transformações do cenário urbano justificados com base em um intuito “cultural”. Tais transformações abarcam principalmente áreas centrais das cidades, de posicionamento estratégico e já dotadas de infra-estrutura, de forma a expulsar a população de baixa renda e implantar em seu lugar equipamentos que funcionem como motores da linha de montagem da nova indústria cultural. A cultura e o surgimento exponencial dos equipamentos culturais em regiões decadentes das cidades revelam um modo de agir do estado-capital, que propositalmente deixa grandes regiões centrais urbanas com infra-estrutura se deteriorarem com o tempo para depois lançarem projetos de revitalização que vão tornar, segundo suas campanhas publicitárias, aquele território algo nobre, belo, limpo, rico, vivo. Através de legislações, planos diretores, projetos integrados, parcerias público-privadas, esta requalificação urbana atinge o ciclo da gentrificação que engloba desde o processo de degradação até a valorização total da área. A expropriação do comum pelo poder inclui os possíveis produtos gerados pelo seu compartilhamento social, ou seja, representa a captura da produção intelectual e criativa da sociedade. O domínio do biopolítico, poder sobre esse comum, representa, assim, aspecto estratégico no contexto do capitalismo contemporâneo, já que equivaleria à captura da máquina reguladora e produtiva da sociedade. [Segundo Barbara Szaniecki (2010), esse comum, a partir da comunicação, poderia ser também pensado a partir da cultura, já que “linguagens, imagens, símbolos, idéias e relações” constituem também o que chamamos de cultura. Essa importância crescente das questões culturais para o desenvolvimento do sistema produtivo, faz com que as mesmas passem a adquirir grande valor no mercado. Enquanto reflexo desse processo pode-se citar a crescente relevância com que vem sendo tratado o termo indústria criativa, principalmente a partir da década de noventa. Indústria criativa define-se enquanto um conjunto de atividades econômicas relacionadas à produção de informação e de conhecimento - tais como publicidade, arquitetura, artes e antiquários, artesanato, design, moda, cinema, edição, música, artes performáticas, serviços de informática, radio e televisão. Esse conjunto heterogêneo de atividades estabelece fortes relações econômicas com os setores de turismo, esportes, museus, galerias e patrimônio e adquire, assim, grande relevância no planejamento urbano contemporâneo enquanto suposto motor de desenvolvimento e de inserção das então “cidades criativas” no cenário geopolítico global. Essa idéia exemplifica de maneira bastante clara a nova lógica produtiva contemporânea, na qual a cultura tem seus laços cada vez mais estreitados com o mercado, e constitui-se enquanto ponto central em torno do qual o sistema capitalista (cognitivo) contemporâneo parece girar. O que se tem, assim, é um sistema cultural neutralizado, e muitas vezes espetacular, produzido com vistas à comercialização rápida e certa. Nas indústrias criativas, nas quais esses métodos são acrescidos de uma lógica cuja base é essencialmente “industrial”, destaca-se a freqüente presença de parcerias público-privadas, o que aponta, de maneira explícita, para a inclusão de tais atividades no circuito mercadológico do sistema dominado pelo estado-empresa neoliberal.]