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Edição das 03h11min de 6 de abril de 2015

https://docs.google.com/document/d/1F3bhwglAIrGwe8VZ830IOBKI9eA74ArJ1EuTN4yrn1I/edit?usp=sharing

Mec Sesu Proext 2016


Programa Ind.Lab _ Laboratório Nômade do Comum (Projetos: 1) Mapeando o comum: cartografias da cultura multitudinárria; 2)Artesanias do Comum; 3) Compartilhamento e distribuiçao do comum)

Linha Temática 17: Ciência, tecnologia e inovação para a inclusão social Subtema: Tecnologia Social



Coordenação: Natacha Rena Co-coordenação: Marcelo Maia


Equipe de pesquisadores envolvidos: (http://lattes.cnpq.br/web/dgp)










Belo Horizonte, 27 de abril de 2015� Descrição (resumo de 250 palavras)

INTRODUÇÃO

O IND.LAB - Laboratório Nômade do Comum - Reúne pesquisadores e desenvolve Cartografias Colaborativas envolvendo comunidades em estado de vulnerabilidade social como Vilas e Favelas, Ocupações, Regiões Centrais e está associado ao Grupo de Pesquisa do Cnpq denominado INDISCIPLINAR, que está sediado na Escola de Arquitetura da UFMG e possui suas ações focadas na produção contemporânea do espaço urbano. Considerada a centralidade do espaço nos processos de globalização - os impasses, questões e potencialidades dela decorrentes e dos processos constitutivos do espaço social, toma-se o urbano em sua capacidade de engendrar singularidades e diferença. A dimensão do Comum é a idéia norteadora das práticas do grupo, bem como elemento articulador de sua composição e atuações diversificadas. O grupo é formado por professores, pesquisadores, alunos de graduação e pós-graduação, ativistas de movimentos sociais, oriundos de diversos campos do conhecimento (Arquitetura, Economia, Geografia, Letras, Direito, Filosofia, Engenharia, Design, Biologia, Sociologia, Antropologia, dentre outros) e de várias instituições (Universidad Javeriana de Bogotá, UFMG, Universidade de Itaúna, Puc Minas, Centros Universitários UNA e UniBH). O grupo articula-se em rede com outras instituições e grupos de pesquisa tais como Práxis (EAUFMG), Pólos da Cidadania (Direito UFMG), Cidade e Alteridade (Direito UFMG), Observatório de Políticas Urbanas (PUC Minas), ONG Real da Rua, Brigadas Populares, Laagencia de Bogotá, Oficina Informal de Bogotá, dentre outros. Atualmente faz parte da rede TECNOPOLÍTICAS: TERRITÓRIOS URBANOS E REDES DIGITAIS com pesquisadores de todo o mundo, voltada a investigar a aplicação das tecnologias digitais de comunicação aos processos de produção do espaço urbano produzindo conhecimento e explorando tecnologias que promovam a interseção entre as redes digitais e as dinâmicas espaciais urbanas. As atividades do IND. LAB compreendem, imbricando-as indissociadamente, teoria e prática, atividades de ensino, pesquisa e extensão (disciplinas, grupos de estudos, publicações, eventos, assessoria técnica, projetos extensionistas e de pesquisa), ativismo urbano e experiências diversas em uma abordagem transversal e indisciplinar na construção de uma experiência criativa e desierarquizada do espaço urbano. Acreditando na COPESQUISA e na CARTOGRAFIA como métodos de pesquisa engajado e militante, possuímos diversas estratégias de ação envolvendo a GERAÇÃO DE TECNOLOGIA SOCIAL (compartilhar e re-aplicar o conhecimento produzido coletivamente e produção de metodologias que possam ser multiplicadas): PUBLICAÇÕES (livros; cartilhas; artigos científicos, textos e produções artísticas e gráficas, revista indexada, fanzines e jornais; utilização intensiva da internet e das redes sociais); CARTOGRAFIAS CRÍTICAS (cartografias da produção do espaço produzidas colaborativamente ou não, diagramas, mapas georeferenciados, biomapas, mapeamentos etnográficos); ATIVISMO URBANO através da participação em vários movimentos da sociedade civil organizada e em: Conselhos, Fóruns, Comissões junto ao poder público, reuniões em comunidades, ações na cidade, diversos movimentos de resistência, manifestações; Produção Cultural e participação em diversas formas de manifestações culturais e de resistência positiva; Formação de redes colaborativas; Orientações de TCC, pesquisas, mestrados e doutorados.

PALAVRAS CHAVE: comum; rede; copesquisa; cartografia; tecnologia social


 2. OBJETIVO GERAL 

Os objetivos dos projetos envolvidos neste programa são produzir tecnologia social reaplicável seja através do uso de alta ou baixa tecnologia. Pretende-se construir um programa a partir de projetos que já estão sendo conduzidos e todos em relação direta com temas urbanos, políticos e sociais atuais. Os projetos pretendem produzir dispositivos de alta e baixa tecnologia como formas de potencializar as ações das comunidades em estado de vulnerabilidade social nas lutas contra hegemônicas. Os objetivos específicos relativos a cada projeto estão dispostos a seguir:

A) MAPEANDO O COMUM: CARTOGRAFANDO A CULTURA MULTITUDINÁRIA CARTOGRAFIAS EMERGENTES

Pretende-se documentar, clarear e sintetizar informações, revelar relações, expandir o significado dos dados através da cartografia, que, para nós é uma metodologia de pesquisa e ação. Além disso representar a complexidade política e econômica do cotidiano em um plano bidimensional não só remete a questões sociais, mas também à representação geográfica que possuam o espaço físico e territorial como lugar onde a vida se dá. As ações serão registradas on-line, através de plataformas de mapeamento georreferenciado e blog. Toda a atividade terá como produto peças gráficas, como diagramas e cartografias desenvolvidas a partir de dados coletados e em colaboração com as comunidades locais envolvidas. Alem disto pretende-se através da realização de eventos criar parcerias e conexões com pessoas que possuem a mesma linha de trabalho. Com essas atividades pretende-se:

1. Produção de conhecimento desierarquizado e de instrumentos e dispositivos para ações de resistência ao capitalismo neoliberal que se estende sobre todo o espaço urbano expropriando o comum; 2. Confecção de mapas que envolvem objetivos políticos estratégicos: a) dar visibilidade aos conflitos socioambientais; b) ser instrumento de pressão e denúncia; d) ter um caráter educativo gerando conhecimento e tecnologias sociais através da organização e mobilização; f) contribuir no planejamento das ações que envolvem os movimentos sociais, indicando caminhos estratégicos e parcerias;


B) COMPARTILHAMENTO E DISTRIBUIÇÃO DO COMUM

Soluções de compartilhamento e distribuição de recursos condicionados por tecnologias de informação e comunicação (TICs). Processos formativos que possam politizá-las inserindo em práticas cotidianas em situações de demandas reais. Difundir na prática cultura e ações de tecnopolíticas e democracia entre pares.


Compartilhamento e distribuição de recursos urbanos tendo como base operacional a democratização e a sensibilização da informação. Em processo constante de retroalimentação (feedback), a informação é coletada, distribuída e após um processo de politização coletiva retorna alimentando novos processos de idéias e ações coletivas. É objetivo desta ação focar em três áreas de planejamento metropolitano estratégicos; 1. agricultura urbana; 2. moradia/habitação de interesse social; 3. lazer Deste modo busca-se: • observar e analisar criticamente com que grau de engajamento do cidadão, consegue-se compartilhar recursos urbanos considerando limitações políticas, técnicas, econômicas e culturais; • identificar e mapear os bens comuns essenciais à vida do sistema urbano no que tange a agricultura urbana, a moradia e o lazer; • territorializar/espacializar idéias e ações coletivas na RMBH fomentando processos de discussão e elaboração de políticas urbanas; • promover processos educativos junto às comunidades e movimentos sociais de capacitação para uso e domínio das tecnologias de conexão garantindo a autonomia dos indivíduos no desenvolvimento e gestão das ferramentas digitais. • fomentar e discutir tecnopolíticas no meta design das cidades sugerindo um Marco Civil da Cidade.


C) ARTESANIAS DO COMUM Pretende-se construir mobiliário e coleções de produtos artesanais através da instalação e organização de uma rede produtiva de objetos de design, mobiliário e material para construção civil no Espaço Comum Luiz Estrela (ocupação cultural que conseguiu consessão de uso durante 20 anos), que possam ser comercializados e desenvolvidos a partir de uma metodologia com foco na produção de tecnologia social através de atividades fundamentadas na economia criativa e solidária. Pretende-se assim:

Ampliar as oportunidades de trabalho e renda para os beneficiários associados em situação de risco pessoal e social; Melhorar a auto-­‐estima e a qualidade de vida dos beneficiários e de seus familiares; Capacitar os beneficiários na produção de objetos de design, buscando com eles aprimorar as técnicas produtivas e a didática das oficinas; Tornar os beneficiários multiplicadores do conhecimento, buscando garantir a sustentabilidade dos núcleos produtivos; Promover a cultura da colaboração e cooperação estimulando a criação e fortalecimento de associações e cooperativas, além da criação de outras redes produtivas integradas na própria comunidade; Promover inclusão mercadológica da rede produtiva; Desenvolver coletivamente uma tecnologia social para ser aplicada nos projetos; Desenvolver produtos que sejam baseados no equilíbrio da tríade social-­‐ambiental-­‐econômico; Capacitar os beneficiários em processos de autogestão e planejamentos integrados, coletivos e colaborativos de redes produtivas; Fomentar discussões sobre cidadania e protagonismo comunitário, buscando o empoderamento real da comunidade; Dar visibilidade à população local, seu cotidiano, sua experiência estética e sua produção cultural à partir de estratégias de divulgação do programa; Intervir, através de produtos produzidos pelas oficinas, nos espaços públicos do bairro de maneira a melhorar a infraestrutura e qualidade ambiental local . Contribuir para a interdisciplinaridade, articulando arquitetura e urbanismo com outras áreas do conhecimento, principalmente design, geografia, economia, psicologia e engenharia; Articular parcerias para aumentar a participação do artesanato na produção nacional e para o conseqüente fortalecimento do setor; Socializar o acesso às informações e ao conhecimento no âmbito do setor artesanal e de design; Desenvolver uma cartilha para propagação do conhecimento artesanal técnico, que seja compreensível para pessoas de qualquer nível de instrução, baseada no processo de aprendizagem durante as oficinas, Disponibilizar informações sobre a utilização e reutilização racional dos recursos naturais, buscando processos produtivos mais sustentáveis; Desenvolver um catálogo/ livro indexado documental do projeto, visando a sua utilização para divulgação das ações.


3.REVISÃO LITERÁRIA


4. METODOLOGIA

       As metodologias desenvolvidas em cada projeto deste programa terão suas estratégias voltadas para as necessidades do projeto naquele momento. Mas de maneira geral todo o processo de produção do conhecimento e de construção das ações deverão conter as noções básicas da tecnologia social.

No caso dos projetos envolvendo as cartografias (Cartografias Emergentes e Multitude), que para nós é uma metodologia de pesquisa e ação, pretende-se: documentar, clarear e sintetizar informações, revelar relações, expandir o significado dos dados. Fazer um mapa implica sintetizar e confinar situações complexas e em constante movimento em uma espécie de diagrama. representar a complexidade política e econômica do cotidiano em um plano bidimensional não só remete a questões sociais, mas também à representação geográfica que possuam o espaço físico e territorial como lugar onde a vida se dá. Portanto as ações serão registradas on-line, através de plataformas de mapeamento georreferenciado e blog. Toda a atividade terá como produto peças gráficas, como diagramas e cartografias desenvolvidas a partir de dados coletados e em colaboração com as comunidades locais envolvidas. Alem disto pretende-se através da realização de eventos criar parcerias e conexões com pessoas que possuem a mesma linha de trabalho. No caso dos projetos envolvendo as artesanias, pretende-se criar oficinas de capacitação em artesanato e design aproveitando a nossa vasta experiência em coordenação de projetos como o ASAS - Artesanato Solidário no Aglomerado da Serra (http://projetoasas.org/blog/category/aglomeradas/) e o DESEJACA - Desenvolvimento Sustentável e Empreendedorismo Social no Jardim Canada (http://programadesejaca.wordpress.com). A idéia é produzir artesanias e construir técnicas que possam ser reaplicadas através de manuais e cartilhas que serão disponibilizados para que todos e qualquer um possa criar os produtos através da informação. Toda a produção deste programa deve ter uma noção clara de Copyleft e ativar processos de empoderamento social e autonomia de grupos sociais. As oficinas e laboratórios serão nômades e deverão ter infra-estrutura nômade para atuar em diversas comunidades.

falta compart e distribuição do comum




5.JUSTIFICATIVA

5.1 Neoliberalismo e a Metrópole

As políticas públicas neoliberais, impostas pelo Estado-capital sobre o território urbano, configuram evidências claras de como a cidade vem se tornando um palco de disputa territorial. Se a fábrica configurava o campo de exploração do trabalho até os anos 70, atualmente o Estado-capital extrai a mais-valia em todo o espaço. Em tempos de capitalismo cognitivo, no qual a tendência da produção cotidiana no mercado vem construindo redes de trabalho voltadas para setores criativos e sociais, as biopolíticas implementadas vão consolidando uma dinâmica de produção do espaço complexa, realizando processos de exclusão social em diversos níveis. Compreender estas as novas estratégias de políticas territoriais é fundamental para mapearmos os campos de luta mais importantes nas nossas cidades. Segundo Hardt e Negri, num texto intitulado Metrópoles, a metrópole é para a multidão o que a fábrica era para a classe operária industrial, o que poderia nos induzir a pensar nas metrópoles como territórios conectados nos quais as ações biopolíticas e de controle dos corpos e das espécies se dão com maior intensidade. Ao mesmo tempo, poderíamos pensá-las como o lugar no qual a biopolítica das resistências primeiras são também potentes, possibilitando encontros que, apesar de todas as estratégias para evitá-los, se dão com maior ênfase em processos constantes de contaminação. A metrópole, para Hardt & Negri, "(...) é a sede da produção biopolítica porque é o espaço do comum, das pessoas que vivem juntas, compartindo recursos, comunicando, intercambiando bens e ideias.” (HARDT; NEGRI, 2009: p.255-256)" O sistema capitalista global contemporâneo, que conecta indissociadamente Estados e empresas, pode ser também denominado de Império ou neoliberalismo. Diferente do capitalismo fordista, no qual a mais-valia era prioritariamente explorada via a força de trabalho nas fábricas, atualmente se dá via capital em expansão dirigindo a exploração para todo o território metropolitano, dentro e fora das fábricas. O tempo do trabalho envolvido na produção do capitalismo industrial que referia-se ao tempo da jornada oficial das leis trabalhistas atualmente ocupa todo o tempo de nossas vidas. A exploração capitalista atual passa pela captura dos desejos e neste sentido todo um sistema simbólico abduz a subjetividade e nos torna trabalhadores e consumidores obedientes, dentro de um sistema capitalista financeiro, assistimos ao surgimento de um novo homem: o homem endividado. Além de vermos configurar (via Estado-capital) a construção de sujeitos dóceis (próprios da sociedade disciplinar em que o controle incidia – e ainda incide – diretamente sobre os corpos), estamos imersos em práticas de controle mais sutis e flexíveis, uma tomada da subjetividade que nos torna controlados biopoliticamente. Esta transição para o Império e seus processos de globalização e mundialização conexionista, nos oferece novas possibilidades de redes insurgentes que possibilitam a ampliação das lutas pela libertação, tecendo uma nova forma de luta que envolve o que chamam de multidão. Para os pensadores estas forças criadoras da multidão que sustentam o Império são capazes também de constituir “um Contra-império, uma organização política alternativa de fluxos e intercâmbios globais. Os esforços para contestar e subverter o Império, e para construir uma alternativa real, terão lugar no próprio terreno imperial.” (HARDT & NEGRI, 2001, p:12-15).Os autores afirmam que é na metrópole que as novas configurações de resistência se configuram com maior intensidade, e em tempos de produção biopolítica nas quais as forças produtivas que movem o capitalismo pós-fordista, trabalhando principalmente com ideias, afetos e comunicação, não estão mais simplesmente concentradas nas fábricas, mas sim espalhadas por terreno social urbano, ou seja, por toda a metrópole, lugar privilegiado onde as múltiplas forças residem e interagem (HARDT & NEGRI, 2014). A lógica das gestões das cidades contemporâneas, tanto no mundo quanto no Brasil, seja nos governos de esquerda, seja nos governos de direita, é a lógica da cidade-empresa, da especulação imobiliária, da gentrificação (enobrecimento e expulsão dos pobres que não conseguem viver mais nas áreas valorizadas), das políticas de revitalização (substituindo vidas pobres por vidas ricas e turismo), das intervenções utilizando equipamentos culturais (museus, bibliotecas, salas de música e afins), do planejamento estratégico que faz surgir novas centralidades urbanas para que o capital se expanda para novos territórios e possa fazer circular recursos dentro do sistema empreiteiras-bancos. Estas lógicas encabeçam o eixo da gentrificação de grandes regiões, principalmente nos centros das cidades que já detêm meios de transporte e serviços abundantes. E, perversamente, em muitos momentos, é utilizando o discurso da arte e da cultura, da melhoria do espaço, do embelezamento e da segurança que o Estado-capital com seu biopoder (poder sobre a vida) avança por toda a cidade expropriando os bens comuns já existentes ou em processo de formação. A vida passa a ser controlada de maneira integral, a partir da captura pelo poder, do próprio desejo do que dela se quer e se espera, e assim o conceito de biopoder se expande para o conceito de biopolítica. Há uma diluição dos limites entre o que somos e o que nos é imposto, à medida que o poder atinge níveis subjetivos passando a atuar na própria máquina cognitiva que define o que pensamos e queremos. Mas a consequência disso é a explosão dos elementos previamente coordenados e mediados na qual as resistências deixam de ser marginais e tornam-se ativas no centro de uma sociedade que se abre em redes (HARDT & NEGRI, 2001, p:44). Isso significa que o poder desterritorializante que subsume toda sociedade ao capital, ao invés de unificar tudo, cria paradoxalmente um meio de pluralidade e singularização não domesticáveis, incontroláveis e incapturáveis. Assistimos a esta situação no Brasil, efetivamente e em grande escala, a partir de junho de 2013. A multidão que se formou, contaminando e hibridando diversas pautas libertárias e progressistas, vem crescendo e tomando novas formas a cada dia. Para Pelbart (2003) ou para Hardt e Negri (2001, 2005, 2009, 2014), esta inversão de sentido do termo foucaultiano “biopolítica”, pode deixar de ser o “poder sobre a vida”, para tornar-se o “poder da vida”, o que poderíamos chamar também de biopolítica da multidão ou, segundo Pelbart (2003), biopotência.

5.2 O comum como projeto constituinte da multidão

A multidão seria então, um ator social ativo, uma multiplicidade que age; seria também o conceito de uma potência que desconfia da representação e em contraste com de povo, porque é uma multiplicidade singular, um universal concreto. O povo constituía um corpo social; a multidão, não, porque ela é a carne da vida e, ao contrário da pura espontaneidade, é como algo organizado num corpo sem órgãos, fora da organização do Aparelho de Estado, ou seja, é um ator ativo de auto-organização, nos introduzindo num mundo completamente novo, dentro de uma revolução que já está acontecendo. A multidão é para o autor, ao mesmo tempo, sujeito e produto da praxis coletiva, assim, como também, cada corpo é multitudinário, ou pode tornar-se uma multidão, formando redes e potencializando contaminações que desejam liberdade na coletividade. A multidão é um monstro híbrido, uma legião, e um projeto que se faz cruzando-se multidão com multidão, misturando corpos operando a mestiçagem e a hibridação, já que o próprio corpo é trabalho vivo e recusa, maquinicamente, a organização constante operada pelo sistema capitalista, portanto, expressão e cooperação, enfim, o poder constituinte da multidão é algo diferente, não é apenas uma exceção política, mas uma exceção histórica, é um produto de uma descontinuidade temporal, radical, metamorfose ontológica, ou seja, a multidão é um nome ontológico de produção de resistências ativas contra sobrevivência parasitárias que constituem a engrenagem da máquina capitalista contemporânea (NEGRI, 2010). Há uma construção em tempos táticos e estratégicos de resistências mundiais contra o urbanismo neoliberal, que se configura performaticamente nas ruas e nas redes, utilizando ao mesmo tempo processos destituintes (via ação direta, manifestações, ações judiciais) e constituintes (via ocupas e acampadas, produção de cultura, arte, textos, vídeos, imagens e novos modos de vida). É interessante observar que desde 2011, os movimentos multitudinários (em todo o mundo) ocupam praças e ruas, reforçando a luta contra projetos neoliberalizantes de privatização do espaço público e, nestes processos de ocupas, apesar dos curtos espaços de tempo, surgem múltiplos processos constituintes de uma outra sociedade que pode se organizar independente da lógica Estado-capital da democracia representativa, formando novas redes afetivas e novas formas democráticas, novas modos de vida baseados na produção do comum (em defesa dos bens comuns e em processos constituintes de modos de organização em-comum). Os acampamentos são uma grande fábrica para a produção dos afetos sociais e democráticos, constituindo-se uma plataforma para o desenvolvimento de novas formas políticas nas quais o autodidatismo possa ser organizado como um exemplo de acesso livre ao comum, incluindo informações, conhecimentos, livre de obstáculos financeiros e também dos obstáculos provenientes do dogmatismo e da censura. Sendo assim, a produção do conhecimento se torna um comum por excelência. Para os autores, tornar-se comum é uma atividade contínua, orientada pela razão, vontade e desejo da multidão, que deve passar por uma educação de seu conhecimento, pela criatividade, pelos afetos políticos inovadores, para que as decisões sobre o comum sejam tomadas por meio da participação-decisão democrática, e não por meio de representantes eleitos. (HARDT & NEGRI, 2014) Nesses movimentos multitudinários globais, a política é uma ontologia plural: o pluralismo das lutas, que emergem das tradições divergentes e expressam objetivos diferentes, combina-se com a lógica cooperativa e federativa da assembleia para criar um modelo de democracia constituinte, em que essas diferenças são capazes de interagir e se conectar umas com as outras, formando uma composição compartilhada. Esta pluralidade de movimentos contra o capital global, contra a ditadura das finanças, contra os biopoderes que destroem o planeta, surgem em busca do acesso livre e compartilhado do comum e de sua autogestão; discutir, aprender, ensinar, estudar, comunicar-se e participar das ações: essas são algumas das formas de ativismo, constituindo o eixo central da produção de subjetividade numa ontologia plural da política que é colocada em prática por meio do encontro e da composição de subjetividades militantes. É no território metropolitano que estas lutas multitudinárias geram um contorno plural, singular e coletivo de forma espacial, ganhando visibilidade e forçando o Estado a repensar as formas burocráticas e pouco participativas que vêm imperando na construção dos planos via parcerias público-privadas. Ou seja, a produção do comum é o que já acontece no trabalho biopolítico imaterial do cotidiano, a metrópole é onde esta biopotência ativa da multidão ganha intensidade e dimensão, e portanto, a constituição do comum nos processos insurgentes contra o Estado-capital fazem crescer novas formas de vida que vão tornando-se desejo de uma ampla gama de jovens e minorias até então excluídas dos processos democráticos, tanto no Brasil quanto no mundo. Em meio a este caldo biopolítico da multidão, vemos também o cruzamento de grupos e sujeitos antes isolados e marginais ao processo das lutas urbanas organizadas, como: pixadores, funkeiros, rapeiros, prostitutas, pop de rua, skatistas, vendedores ambulantes, estudantes. Esta mistura maluca, híbrida, biopolítica, também vem assumindo formas inusitadas, que fogem ao simples ato de marchar enfileirados nas ruas guiados pelos carros de sons dos sindicatos e partidos, mas se envolvem cada vez mais numa estratégia tática afetiva gerando heterotopias através de festas, carnavais, atos artísticos, intervenções nas redes de forma ubíqua, fazendo cruzar o espaço topológico das redes com o espaço físico das ruas. Também surgem novas formas de construção de novas subjetividades políticas que passam pelas assembleias populares em praças e parques, ou ocupas que vão ocupar tanto o espaço público (do Estado) quanto o espaço privado (do Mercado) através de ações diretas de diversas ordens, gerando situações territoriais autônomas (temporárias ou não). Mas não é somente através de atos curtos e de instantes de lutas que se vê crescer as resistências positivas, diversas ações que envolvem o aparato jurídico e político oficial estão sendo construídas cotidianamente e surgem das conexões multitudinárias redes-ruas. Atitudes antidemocráticas envolvendo a expropriação do comum, que até 2013 eram decisões políticas tomadas somente pelo poder público, agora vêm sendo sistematicamente denunciadas ao Ministério Público. Mecanismos de participação popular, até então abandonados pela sociedade de maneira geral como os espaços das Câmaras do Legislativo, têm sido diariamente ocupadas por movimentos sociais que trazem debates fundamentais para a construção da cidade, envolvendo principalmente o tema do transporte público via movimento Tarifa Zero, ou a Reforma Urbana e a luta pela moradia via movimentos organizados e em expansão como MLB, Brigadas Populares, grupos de pesquisa das universidades e ativistas de diversos setores. Este conjunto destituinte dos poderes tradicionais se soma ao conjunto de ações constituintes que vêm tomando forma e dimensão como é o caso da ocupação cultural Espaço Comum Luiz Estrela, que tem sido referência para diversos grupos minoritários. A multidão, na defesa do comum, performa novos modos de vida e questiona, com ênfase poética e política, a propriedade privada. Sabe-se que as formas de representação estão em crise, mas é a democracia gerida pelo Estado-capital quem mais sofre com a radicalidade das novas lutas, porque é nela que se escondem todas as redes de perversidades do poder instituído (governos com seus legislativos, executivos e judiciários, mercado, mídias, igrejas, sindicatos, etc). A propriedade privada é a forma mais evidente da democracia burguesa e foi criada para garantir a eternidade das elites no poder. O que se explora é a vida, a vida dos pobres, que somos em tempos pós-modernos, todos nós, os precarizados. Acontece que é nos processos colaborativos em rede que esta nova classe precarizada avança insurgente, exigindo democracia real e a construção do comum urbano, livre do Estado e do mercado. A democracia representativa já não mais representa o cidadão comum e vem deixando de lado os interesses de todos para garantir o interesse do mercado que financia o Estado e suas campanhas políticas que garantem a permanência de grupos no poder. Contudo, a sociedade se rebela. O espírito de multidão que encara o Império de frente e exige democracia real e, em muitos casos, o direito de ter os seus bens comuns administrados autonomamente, faz parte destas novas organizações ativistas que trazem a frescura da coleção subjetiva das diferenças e a pauta ampliada das lutas. Seria também interessante notar que estes movimentos são horizontais, sem lideranças definidas, e possuem uma dinâmica de articulação, que, por ser rizomática, é impossível de cooptar. Vemos o Estado-capital na tentativa desesperada de se aproximar destes movimentos para capturar a sua dinâmica que se recusa a pertencer à lógica do Aparelho de Estado, pois são máquinas de guerra configuradas por maltas híbridos. A autonomia e a autogestão é tudo o que o Estado-capital não pode suportar. Fora da lógica dos movimentos viciados da esquerda clássica, que acredita na ideia unitária de povo, e fora da lógica do mercado, que só pensa nos cidadãos como massa, a multidão é plural e atua no trabalho vivo e imaterial produzido em rede coletivamente e criativamente. Portanto, estancar a força motriz que move estes movimentos não vai ser tarefa fácil para o Estado-capital, já que o que os movem é o amor e o afeto e o próprio sentido ativo da vida.

5.3Análise conjuntural

Os problemas trazidos pelo crescimento exponencial das metrópoles e pela concentração de renda nas mãos de poucos são evidências de um sistema capitalista que promove a exclusão econômica e social. Por toda parte surgem problemas que vão desde ineficiência no abastecimento de água, de energia, de infraestrutura mínima de mobilidade, saúde, segurança ou educação. Segundo relatório das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos (ONU-Habitat) [1], a América Latina apresenta índices que apontam a diminuição da pobreza, mas o Brasil, contraditoriamente, se torna a sexta maior economia do mundo e o quarto país mais desigual do continente, atrás da Colômbia, que é o terceiro país mais desigual. Este mesmo relatório projeta que a taxa de população urbana chegará a 89% em 2050 e que o índice de urbanização brasileira, além de ser o maior em toda a América Latina entre 1970 e 2010, revela 86,53% da população vivendo nas cidades. Belo Horizonte (a cidade de onde venho) está entre cinco outras cidades brasileiras que posuem a pior distribuição de renda em toda a América Latina. O PIB do país representa 32% do total do PIB do continente, mas seu PIB per capita ocupa a 13ª colocação, abaixo de países como Chile e Argentina. O estudo da ONU-Habitat mostra que o Brasil é apenas a 19ª nação da América Latina em atendimento de saneamento básico. No país, 28% da população mora em comunidades com infraestrutura precária e a grande maioria em situação informal. O índice de moradores de favelas no Brasil é de 26%, ou seja, mais alto do que a média latino-americana. O relatório da ONU-Habitat ressalta também que apesar dos desafios para desenvolver as cidades, a América Latina está prestes a viver um novo ciclo de trasnsformação urbana, com objetivo de garantir a melhoria da qualidade de vida nas cidades, mas o grande desafio é a criação de instrumentos para combater as desigualdades nas regiões metropolitanas. Observa-se que as economias dos países latinoamericanos crescem a reboque de comoddities ao invés de investirem em conhecimento e desenvolvimento de tecnologia. No Brasil, o estado desenvolvimentista vem investindo quase toda sua energia em megaprojetos para megaeventos. Observamos governos falidos, sob legendas de esquerda, investindo em políticas neoliberais explícitas, vendendo, literalmente, ruas, praças, e territórios inteiros para exploração de recursos naturais não renováveis. De forma assustadora, o estado vem concedendo à iniciativa privada o direito de imaginar e construir a cidade à revelia dos desejos populares. Por toda a parte, sob a lógica cultural do capitalismo tardio, rege o poder público que agencia, em parceria com a iniciativa privada, obras espetaculares que irão representar o seu poder e a sua modernidade. As operações Urbanas estão na moda. No Brasil estamos vivendo um momento pré-eventos internacionais como a Copa do Mundo de 2014 ou as Olimpíadas de 2016. Políticas modernizadoras que envolvem a arte, a cultura e a arquitetura vêm sendo implementada para receber turistas e todo tipo de investimento internacional. A cidade está sendo, literalmente, vendida para o mercado.


5.4 Em busca da indisciplina

Trazendo a discussão da disciplina, dispositivo do bipoder e do controle da vida e do conhecimento nas sociedades disciplinares a partir do século XVII, que legitimou e organizou as instituições acadêmicas ampliando radicalmente o número de escolas e universidades ao longo do século XIX, para o questionamento do ambiente acadêmico atual no Brasil e em quase todos os países do mundo, podemos perceber que este enquadramento do saber em disciplinas, que, diferente do português, em espanhol significa assignatura, gera um leque de problemas de conduta cotidiana na vida de professores e educadores, que impedem o agenciamento de novas formas pedagógicas e educativas. Há uma exigência nacional que controla as formas de trocar o conhecimento. Necessita-se um enquadramento do conhecimento em disciplinas para que se gerem as grades e matrizes curriculares. Contraditoriamente, nossas agências de fomento à produção acadêmica que financiamento de pesquisa e extensão no Brasil, via de regra incluem em seus indicadores de avaliação dos Projetos e Programas em editais o indicador da interdisciplinaridade gerando uma esquizofrenia entre os sistemas que compõem o sistema geral do ensino nas universidades brasileiras: relação indissociada entre ensino, pesquisa e extensão. Como os currículos dos cursos, em sua maioria nas universidades brasileiras é organizado em disciplinas estanques, inventa-se formas de relacionar pesquisa e extensão furando o sistema tradicional que é pensado disciplinarmente. Daí surgem algumas questões de ordem conceitual e política que envolvem projetos de ensino em todas as áreas de conhecimento: Como e para que é importante um saber isolado, íntegro e total? A quem interessa esta divisão do conhecimento em setor, grades, matrizes e categorias? A quem interessa a produção de um conhecimento estanque dentro das escolas e das universidades? A quem interessa um conhecimento taxonômico do mundo e das coisas? A quem interessa a separação entre as disciplinas? E poder-se-ia divagar um pouco mais: Entre natureza e artifício? Entre sujeito e objeto? Entre centro e periferia? Entre espaço mental e espaço vivido? Entre global e local? Entre arte e design? Entre arquitetura e urbanismo? Sabemos que estas dicotomias nos levam a um grande equívoco próprio do conhecimento acadêmico atual e que é incompatível com a idéia tão difundida da interdisciplinaridade. Pensando nesta situação, sugerimos aqui a Extensão Universitária como o lugar da liberdade e da desierarquização do conhecimento envolvendo o ensino e a pesquisa. Trata-se de pensar estas disciplinas de forma indisciplinar que age simultaneamente dentro e fora dos centros produtores de conhecimento, e que pode adotar um pensamento-ação crítico e de resistência. Isto tudo tem a ver com conhecimento, com potência criativa, com invenção, com política cultural, com política acadêmica, com política pública, com urbanismo, com o direito à cidade. Tudo isto tem relação direta com indignação, com possibilidade do uso livre do mundo. Tudo isto deveria interessar aos artistas, designers, arquitetos e urbanistas. Mais do que difundir a técnica, seria preciso incitar os alunos, técnicos e professores os envolvidos um posicionamento crítico frente ao mundo. Acredita-se que realizar uma atuação militante dentro da universidade exige que se faça um movimento de cruzamento: entre os saberes populares e eruditos, entre os modos de vida da periferia e dos seus técnicos, alunos e professores. Cruzar as fronteiras, territoriais e espaciais, mas também, e principalmente, sociais. Repensando o ensino que envolve a cultura, a arte, o design, a arquitetura e o urbanismo, teríamos que compreender que são disciplinas indisciplinares que envolvem a vida como um todo e produzem espaços e que estes são políticos e nunca neutros. Entende-se que atualmente tudo é urbano. Entende-se que a produção do espaço urbano é cultural, social, política, econômica, e portanto, indisciplinar por sua natureza híbrida. As antigas cidades fixadas no nosso imaginário como algo delimitado e finito, cercadas por áreas campestres que definem as fronteiras entre o urbano e o rural, não existem mais. Tudo é urbano. Tudo é centro e periferia. Em 91, Saskia Sassen[1] definia o conceito de Cidade Global, afirmando que existem, na verdade, cidades como plataformas de operação de empresas transnacionais, como ponto de encontro de conhecimento e de talentos que fazem a ponte entre atores globais e especificidades locais. Esse status garante, segundo a pensadora, o crescimento, mas cria uma casta de muitos ricos capazes de dominar todo o espaço urbano. Mas como é possível dominar o espaço urbano? Quem gera dispositivos para que ricos dominem o espaço? O estado? O mercado?

5.5 Extensão universitária e tecnologia social

Acredita-se que dentro das universidades brasileiras e latino-americanas, a extensão é o ponto de resistência! Segundo o Fórum de Pró-reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras, a Extensão Universitária, sob o princípio constitucional da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, é um processo educativo, cultural, científico e político que promove a interação transformadora entre universidade e outros setores da sociedade[1]. Para nós educadores, pensando no ensino e na produção da arte, do design e da arquitetura, é necessária uma introdução de outras formas para lidar com os processos de criação, que possibilitem novos parâmetros produtivos, que promovam a consolidação de um campo expandido para estas disciplinas, para além do tecnicismo e do mercado de produção em massa (tanto da arquitetura quanto do design industrial), para além da geração de obras (de arte autorais para serem legitimadas por instituições via bienais, etc e, consequentemente, comercializadas em galerias de luxo). É muito importante incentivar um desenvolvimento cultural contaminado pelo cotidiano, e que possa existir de uma maneira mais social e política, criando um ambiente para a existência de ações mais engajadas e militantes. Projetos e ações menos estéticas e mais éticas. Segundo as próprias diretrizes do Plano Nacional de Extensão Universitária [2] brasileiro, a política extensionista universitária vem desenvolvendo um caráter cada vez mais atuante socialmente. Ao longo dos anos, a partir de 1960, as políticas de extensão universitárias brasileiras vêm caminhando do assistencialismo passou-se ao questionamento das ações desenvolvidas pela extensão que começou a ser percebida como um processo que articula o ensino e a pesquisa, organizando e assessorando os movimentos sociais que estavam surgindo. Portanto, a produção do conhecimento, via extensão, se faria na troca de saberes sistematizados entre o acadêmico e o popular, tendo como conseqüência a democratização do conhecimento, a participação efetiva da comunidade na atuação da universidade e uma produção resultante do confronto com a realidade. Neste sentido nos deparamos com a idéia de geração de tecnologia social, que surgiria através deste confronto desierarquizado de saberes. Acredita-se que a extensão não deve transferir conhecimento da universidade para uma comunidade, mas sim, construir conhecimento coletivamente num ambiente de troca constante. O objetivo essencial do trabalho extensionista é, ou deveria ser, o de estabelecer uma rede de trocas desierarquizada e compreender que todos aprendem e ampliam os seus horizontes ao longo destas experiências. Nestes projetos de extensão que irei apresentar em seguida, a consciência da atuação política é evocada a todo momento para que a construção das tecnologias sociais não aconteça de forma consciente apenas no nível técnico e burocrático, o que é um risco evidente dentro das estruturas acadêmicas. Mesmo que a pesquisa seja o movimento acadêmico mais valorizado por todos os órgãos de fomento no Brasil e no mundo, a extensão é o lugar da geração de tecnologia social, conceito que surge claramente no sentido de equilibrar, ou iniciar um equilíbrio, entre os incentivos de financiamento de pesquisas científicas (que interessam ao mercado, às indústrias e, portanto, explicitamente, ao capital) e projetos de extensão, que estão interessados em fomentar a produção do conhecimento entre universidade e comunidades em estado de vulnerabilidade social. Segundo Lassance e Pedreira (2004: 66), tecnologias sociais reaplicáveis podem ser definidas como um “conjunto de técnicas e procedimentos, associados às formas de organização coletiva, que representam soluções para a inclusão social e melhoria da qualidade de vida.” No mesmo sentido, Boaventura de Souza Santos defende a extensão como fundamental: numa sociedade cuja quantidade e qualidade de vida assenta em configurações cada vez mais complexas de saberes, a legitimidade da universidade só será cumprida quando as atividades, hoje ditas de extensão, se aprofundarem tanto que desapareçam enquanto tais e passem a ser parte integrante das atividades de investigação e de ensino. (SANTOS apud SOBRINHO, 2000: 50) Trata-se aqui da luta contra-hegemônica utilizando os processos extensionistas como ações biopotentes, programas claros e inequívocos, de alianças que são possíveis porque baseiam-se em denominadores comuns, objetivos comuns, e que são mobilizadoras porque produzem uma ação positiva, isto é, porque conferem vantagens específicas a todos os que participam nelas em função do seu grau de participação (SANTOS, 2006: 198). Todos devem ganhar neste processo de troca universidade-comunidade-parceiros, que engloba a generosidade e a solidariedade humana, dentro de um movimento de tradução, invenção e formulação de tecnologia social. Desenvolvendo projetos de extensão, aliados à pesquisas que desloquem e aprimorem constantemente o fazer, é possível gerar, através do encontro de instituições, profissionais e pessoas de realidades sociais e culturais diversas, atos que se dão como biopotência, que resistem aos mecanismos do biopoder estabelecidos pelas relações perversas do capital contemporâneo. Propõem-se aqui ações de extensão como catalizadoras do poder da Multidão. Para HARDT & NEGRI (2005) o conceito de Multidão é um outro nome pra esta biopotência, é uma alternativa viva que vem se constituindo dentro do Império. Como já foi dito, para estes autores a globalização tem duas faces, uma delas negativa na qual o “Império dissemina em caráter global sua rede de hierarquias e divisões que mantém a ordem através de novos mecanismos de controle e permanente conflito” e a outra que surge na: criação de novos circuitos de cooperação e colaboração que se alargam pelas nações e os continentes, facultando uma quantidade infinita de encontros. Esta segunda face da globalização não quer dizer que todos no mundo se tornem iguais; o que ela proporciona é a possibilidade de que, mesmo nos mantendo diferentes, descubramos os pontos comuns que permitam que nos comuniquemos uns com os outros para que possamos agir conjuntamente. Também a multidão pode ser encarada como uma rede: uma rede aberta e em expansão na qual todas as diferenças podem ser expressas livre e igualitariamente, uma rede que proporciona os meios de convergencia para que possamos trabalhar e viver em comum. (HARDT & NEGRI, 2005: 12) Acredita-se numa militância criativa, numa outra arte, num outro design, numa outra arquitetura que incorporem os saberes populares e periféricos, em processos de hibridação constante. É preciso compreender que a criação não é um dom especial que faz do designer, do artista ou do arquiteto pessoas em destaque na sociedade. Segundo Pelbart: todos e qualquer um inventam, na densidade social da cidade, na conversa, nos costumes, no lazer – novos desejos e novas crenças, novas associações e novas formas de cooperação. (…) Todos e qualquer um, e não apenas os trabalhadores inseridos numa relação assalariada, detêm a força-invenção, cada cérebro-corpo é fonte de valor, cada parte da rede pode tornar-se vetor de valorização e de autovalorização. Assim, o que vem à tona com cada vez maior clareza é a biopotência do coletivo e a riqueza biopolítica da multidão. (PELBART, 2003: 139) Pensando especificamente a prática (majoritária no Brasil e no mundo) que envolve o fazer estratégico e planejado do projeto de design ou de arquitetura não atinge o campo social e político necessário para a transformação de nossa realidade. Produz-se para o mercado e através do mercado, lança-se a segundo plano os projetos coletivos e colaborativos (e a arte não está fora deste círculo produtivo).

6. ETAPAS/ATIVIDADES A SEREM DESENVOLVIDAS

       6.1 MAPEANDO O COMUM: CARTOGRAFANDO A CULTURA MULTITUDINÁRIA

1. Realinhamento das atividades de acordo com o início do projeto aprovado;

2. Capacitação inicial dos bolsistas selecionados e confecção do Marco Zero para futuras avaliações do projeto; 3. Capacitação teórica e prática da equipe de pesquisadores, de forma continuada durante todo o período do projeto. 4. Revisão da Bibliografia; Análise crítica de Casos (projetos de empreendedorismo social)/ seminários internos; 5. Preparação das aulas teóricas e práticas das oficinas (material didático/ slides); 6. Oficinas de cartografias participativas (teóricas e aulas práticas); 7. Comunicação: criação de mapas coletivos; 8. Curadoria, organização e produção do evento Seminário Internacional; 9. Realização do Evento: Seminário Internacional; 10. Produção de Artigos, pelos bolsistas, sob orientação dos professores da equipe. Produção de Artigos, pelos pesquisadores e parceiros envolvidos; 11. Editoração e design do catálogo/ livro indexado; 12. Produção de Relatórios parciais contendo os indicadores de avaliação pré-­‐estabelecidos no Marco Zero; 13. Realização dos relatórios finais do projeto; 14. Participação em seminários e congressos. Ampliar as ações do grupo de pesquisa para outras metrópoles brasileiras e iberoamericanas agregando novos pesquisadores e novos processos de cartografia.

       6.2 COMPARTILHAMENTO E DISTRIBUIÇÃO DO COMUM

(marcelo_completar aqui)

       6.3 ARTESANIAS DO COMUM  

1.Realinhamento das atividades de acordo com o início do Projeto de Pesquisa aprovado

2. Coleta de dados disponíveis sobre o Espaço Comum Luis Estrela:

a) Coleta dados sobre projetos/Desenho de espaços públicos no bairro b)Análise crítica projetos c) Levantamento atores sociais locais d) Elaboração questionários/Coleta de dados in loco (observação participativa e aplicação de questionários)/ Diálogos com setores da comunidade e) Seleção de beneficiários diretos para projetos

3.Realinhamento do projeto em contato direto com a comunidade já selecionada;

4.Capacitação inicial dos bolsistas selecionados e confecção do Marco Zero para futuras avaliações do projeto; 5. Capacitação teórica e prática da equipe de pesquisadores, de forma continuada durante todo o período do projeto.

6. Revisão da Bibliografia; Formação de um repertório envolvendo design e sustentabilidade para preparação das oficinas e aulas teóricas. Análise crítica de Casos (projetos de empreendedorismo social)/ seminários internos


7. Produção de conhecimento desierarquizado e de instrumentos e dispositivos para ações de resistência ao capitalismo neoliberal que se estende sobre todo o espaço urbano expropriando o comum.

8. Preparação das aulas teóricas e práticas das oficinas (material didático/ slides);

9. Assessoria técnica em economia solidária e empreendendorismo para formalização de empresas comunitárias e comercialização de produtos das oficinas;

10. Mapeamento de resíduos sólidos produzidos na região e coleta de amostragem para testes; Preparação de materiais e envio às oficinas;

11. Comunicação: criação e atualização de Blog;

12.Produção de eventos que envolvam a universidade (ensino, pesquisa e extensão) de maneira indissociada.

13. Produção de livros, revistas e material gráfico contendo artigos e manuais de faça-você-mesmo.


7. INSTALAÇÕES E EQUIPAMENTOS A SEREM UTILIZADOS

7.1 Infraestrutura do IND.LAB O laboratório funciona no quinto andar da Escola de Arquitetura e possui 5 computadores de mesa, 2 notebooks, uma impressora, 3 câmeras de fotografia e vídeo, uma oficina de marcenaria de mão completa, uma oficina de estamparia completa, uma oficina de tecelagem completa. Também possui mesas, cadeiras, armários e material de funcionamento cotidiano.


(VER COM ARLETE O QUE PODE SER INSERIDO AQUI) o que queremos?

cartografias emergentes:

comp. e distribuição do comum:

artesanias do comum:



8. IDENTIFICAÇÃO DOS ITENS QUE INTEGRARÃO A CONTRAPARTIDA (E O VALOR)

(vide numero 7)


9. PRODUTOS TÉCNICOS ESPERADOS 9.1 Cartografias Emergentes: peças gráficas, como diagramas e cartografias desenvolvidas a partir de dados coletados e em colaboração com as comunidades locais envolvidas. Alem disto pretende-se através da realização de eventos criar parcerias e conexões com pessoas que possuem a mesma linha de trabalho.

     9.2 Compartilhamento e distribuição do comum:


9.3 Artesanias do Comum: Manuais e cartilhas que serão disponibilizados para que todos e qualquer um possa criar os produtos através da informação. Toda a produção deste programa deve ter uma noção clara de Copyleft e ativar processos de empoderamento social e autonomia de grupos sociais. As oficinas e laboratórios serão nômades e deverão ter infra-estrutura nômade para atuar em diversas comunidades.



10. BENEFÍCIOS GERADOS À SOCIEDADE

Os projetos pretendem produzir dispositivos de alta e baixa tecnologia como formas de potencializar as ações das comunidades em estado de vulnerabilidade social nas lutas contra hegemônicas


11. EQUIPE EXECUTORA E PARCERIA

A coordenação geral do programa é realizada pela Profa. Natacha Rena, em parceria com Prof. Marcelo Reis Savergnini Maia. A Prof. Rena tem destacada experiência em projetos de extensão universitária e notoriedade em artesanato solidário. É coordenadora do premiado programa ASAS (www.projetoasas.org), Universidade Fumec/MG (Finalista no Concurso Planeta CASA da Editora Abril na Categoria Ação Social em outubro de 2010; Vencedor do Primeiro lugar nacional no Prêmio Objeto Brasileiro na Categoria Ação Social em novembro de 2010; Vencedor no Concurso de Projetos de Extensão Nacional UNISOL/SANTANDER com o Projeto Rede de produção artesanal no Aglomerado em 2010; Vencedor em primeiro lugar nacional do Prêmio Top Educacional Professor Mário Palmério 2010); Vencedor em primeiro lugar na categoria Tecnologia e Produção do Prêmio Cidadania Sem Fronteiras realizado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia em 2011. O Prof. Maia


12. INDICADORES DA AVALIAÇÃO

Este projeto prevê indicadores de avaliação que serão articulados com os objetivos específicos e com as ações que garantam o cumprimento das metas. Está previsto que durante todo o desenvolvimento dos projetos e das ações paralelas (como eventos e publicações), será realizado trimestralmente um relatório contendo o Plano de Ação que contém os indicadores de avaliação, sempre a partir do marco zero, para que se possa compreender como as ações garantem o cumprimento dos objetivos e se estes encontram-­‐se dentro dos prazos previstos pelo cronograma. Para a avaliação contínua das ações do Programa, elencam-­‐se alguns indicadores que serão verificados por meio de observação, formulação de questionários, entrevistas e documentação audiovisual a serem efetuadas pela equipe, parceiros e professores convidados: Em relação aos beneficiários diretos, deverá ser considerado seu empoderamento, incremento de renda, melhoria da qualidade de vida, a qual envolve trabalho, saúde e educação, capacidade de gerir e empreender próprios negócios, aprimoramento das suas habilidades profissionais, apropriação de novas práticas, tecnologias e métodos de comercialização, como meios de distribuição e comunicação, melhoria na infra estrutura para a produção e a melhoria na produtividade, observando a ampliação efetiva do seu repertório cultural. Em relação à comunidade local, deverá ser considerado o fortalecimento de uma identidade cultural,a apropriação das práticas e tecnologias por parte da comunidade, a mudança de hábitos, que implicam no consumo de produtos fruto das atividades do projeto, a ampliação da consciência socioambiental e melhorias ambientais no bairro, Em relação à comunidade acadêmica, deverá ser verificado o grau de comprometimento da universidade com o projeto, sua contribuição para o aprimoramento da pesquisa e ensino, a influência do projeto afim de envolver a comunidade acadêmica em outros projetos e iniciativas sociais, a construção da identidade profissional e a formação do universitário, a ampliação de parceiros e a possibilidade de continuidade e ampliação do projeto. Em relação aos bolsistas participantes do programa, para a verificação e avaliação da influencia do projeto na sua formação profissional será considerado o comprometimento e participação do estudante em todas as atividades, a avaliação da produção e sistematização de conhecimentos, o que envolve publicações, produções de artigos e portfólio e o envolvimento dos bolsistas com um grupo multidisciplinar. Deve-­‐se ressaltar que à atividade de extensão, serão atribuídos créditos para integralização curricular. Para isso, a participação neste projeto deverá ser registrada nos Colegiados de origem dos estudantes. O processo utilizado para avaliação do Programa pela equipe executora será também pautado pelos indicadores de avaliação listados a seguir:

a) Indicadores Sociais: Empoderamento dos beneficiários; Melhoria na qualidade de vida (trabalho, saúde e educação); Aplicação das competências no gerenciamento da organização (do negócio) ʹ Dimensão Empreendedora; Aprimoramento das habilidades profissionais; Beneficiários do projeto atuam na capacitação de outros participantes do projeto; Melhores condições de segurança e salubridade; Apropriação das práticas e tecnologias por parte da comunidade; Envolvimento com outras iniciativas sociais; Capacitação para o trabalho em projetos sociais; Construção da identidade profissional: influência do projeto na formação do universitário enquanto profissional; b) Indicadores Econômicos: Incremento de renda; Mudança de hábitos ʹ consumo de produtos fruto das atividades do projeto; Acesso a financiamentos (governamentais ou não); Concretização de novas oportunidades de renda; Formalização de iniciativas (em cooperativas, associações, etc.); Melhoria da comercialização (distribuição, comunicação, etc.); Melhoria da qualidade dos produtos; Melhoria na infra-­‐ estrutura para a produção; Melhoria na produtividade; c) Indicadores Ambientais: Ampliação da consciência socioambiental.


13. Relação Ensino, Pesquisa e Extensão

As atividades do IND. LAB compreendem, imbricando-as indissociadamente, teoria e prática, atividades de ensino, pesquisa e extensão (disciplinas, grupos de estudos, publicações, eventos, assessoria técnica, projetos extensionistas e de pesquisa), ativismo urbano e experiências diversas em uma abordagem transversal e indisciplinar na construção de uma experiência criativa e desierarquizada do espaço urbano. Acreditando na COPESQUISA e na CARTOGRAFIA como métodos de pesquisa engajado e militante, possuímos diversas estratégias de ação envolvendo a GERAÇÃO DE TECNOLOGIA SOCIAL (compartilhar e re-aplicar o conhecimento produzido coletivamente e produção de metodologias que possam ser multiplicadas). Tem como pressuposto central a ideia de que o conhecimentoque se difunde e se produz nas ações extensionistas se constrói no encontro entre o universo acadêmico e do saber popular.


14. Referências Bibliográficas

















TEXTO PARA CONSULTA O IND.LAB - Laboratório Nômade do Comum - Reúne pesquisadores e desenvolve Cartografias Colaborativas envolvendo comunidades em estado de vulnerabilidade social como Vilas e Favelas, Ocupações, Regiões Centrais e está associado ao Grupo de Pesquisa do Cnpq denominado INDISCIPLINAR, que está sediado na Escola de Arquitetura da UFMG e possui suas ações focadas na produção contemporânea do espaço urbano. Considerada a centralidade do espaço nos processos de globalização - os impasses, questões e potencialidades dela decorrentes e dos processos constitutivos do espaço social, toma-se o urbano em sua capacidade de engendrar singularidades e diferença. A dimensão do Comum é a idéia norteadora das práticas do grupo, bem como elemento articulador de sua composição e atuações diversificadas. O grupo é formado por professores, pesquisadores, alunos de graduação e pós-graduação, ativistas de movimentos sociais, oriundos de diversos campos do conhecimento (Arquitetura, Economia, Geografia, Letras, Direito, Filosofia, Engenharia, Design, Biologia, Sociologia, Antropologia, dentre outros) e de várias instituições (Universidad Javeriana de Bogotá, UFMG, Universidade de Itaúna, Puc Minas, Centros Universitários UNA e UniBH). O grupo articula-se em rede com outras instituições e grupos de pesquisa tais como Práxis (EAUFMG), Pólos da Cidadania (Direito UFMG), Cidade e Alteridade (Direito UFMG), Observatório de Políticas Urbanas (PUC Minas), ONG Real da Rua, Brigadas Populares, Laagencia de Bogotá, Oficina Informal de Bogotá, dentre outros. Atualmente faz parte da rede TECNOPOLÍTICAS: TERRITÓRIOS URBANOS E REDES DIGITAIS com pesquisadores de todo o mundo, voltada a investigar a aplicação das tecnologias digitais de comunicação aos processos de produção do espaço urbano produzindo conhecimento e explorando tecnologias que promovam a interseção entre as redes digitais e as dinâmicas espaciais urbanas. As atividades do IND. LAB compreendem, imbricando-as indissociadamente, teoria e prática, atividades de ensino, pesquisa e extensão (disciplinas, grupos de estudos, publicações, eventos, assessoria técnica, projetos extensionistas e de pesquisa), ativismo urbano e experiências diversas em uma abordagem transversal e indisciplinar na construção de uma experiência criativa e desierarquizada do espaço urbano. Acreditando na COPESQUISA e na CARTOGRAFIA como métodos de pesquisa engajado e militante, possuímos diversas estratégias de ação envolvendo a GERAÇÃO DE TECNOLOGIA SOCIAL (compartilhar e re-aplicar o conhecimento produzido coletivamente e produção de metodologias que possam ser multiplicadas): PUBLICAÇÕES (livros; cartilhas; artigos científicos, textos e produções artísticas e gráficas, revista indexada, fanzines e jornais; utilização intensiva da internet e das redes sociais); CARTOGRAFIAS CRÍTICAS (cartografias da produção do espaço produzidas colaborativamente ou não, diagramas, mapas georeferenciados, biomapas, mapeamentos etnográficos); ATIVISMO URBANO através da participação em vários movimentos da sociedade civil organizada e em: Conselhos, Fóruns, Comissões junto ao poder público, reuniões em comunidades, ações na cidade, diversos movimentos de resistência, manifestações; Produção Cultural e participação em diversas formas de manifestações culturais e de resistência positiva; Formação de redes colaborativas; Orientações de TCC, pesquisas, mestrados e doutorados.

Este programa desenvolve diversos projetos de extensão associados à pesquisa gerando tecnologia social através de ações diretas com a sociedade distribuídas em dois eixos metodológicos envolvendo baixa e alta tecnologia que se cruzam. Ao mesmo tempo que utilizamos cartografias críticas colaborativas envolvendo comunidades em estado de vulnerabilidade social e movimentos culturais e sociais, desde mapas realizados presencialmente e analogicamente com papel, canetinhas, adesivos. Após estas oficinas de cartografia colaborativa, desenvolvem-se ações que utilizam a tecnologia digital e as redes na internet com intensidade. Mapas georreferenciados, cartografias críticas colaborativas em rede, aplicativos para celular e outras maneiras de atuar dentro do que compreende como Cidade Instantânea ou Inteligente. Para este edital escolhemos 3 projetos em andamento vinculados ao IND.LAB que são: aqui proposto já estão sendo executados são: A) MAPEANDO O COMUM: CARTOGRAFANDO A CULTURA MULTITUDINÁRIA (que entra neste edital Mec Sesu como projeto estruturante junto de mais dois projetos); CARTOGRAFIAS EMERGENTES; B) COMPARTILHAMENTO E DISTRIBUIÇÃO DO COMUM; C) ARTESANIAS DO COMUM

Em ambos estão envolvidas também disciplinas de graduação e pós-graduação com vários experimentos sendo desenvolvidos com relação ao uso de plataformas digitais colaborativas para construção de mapas georreferenciados com dados que levantam a cultura, os commons urbanos, enfim, problemas, potencialidades e ações multitudinárias nas metrópoles. As disciplinas são: UNI009_Cartografias Emergentes, que é aberta para toda a universidade, ea disciplina ARQ 033 - Projeto Integrado do Design. OBS: entramos no edital para a construção de um INCT INSTITUTO NACIONAL DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA com uma proposta denominada TECNOPOLÍTICAS: territórios urbanos e redes digitais, utilizando já nossa experiência envolvendo este programa.

2) O EIXO DE BAIXA TECNOLOGIA possui projetos que trabalham principalmente artesanias acreditando que a autogestão dos espaços e de diversas ações colaborativas podem ser desenvolvidas dentro de uma lógica tática de confecção dos próprios utilitários, mobiliário, e arquitetura. A ênfase nas artesanias também pressupões o uso de materiais recicláveis e reutilizados e a produção coletiva dos espaços. Há um terceiro projeto associado a este programa C) ARTESANIAS DO COMUM (que entra neste edital Mec Sesu como projeto estruturante junto de mais dois projetos) e possui 3 laboratórios de confecção artesanal. Pretende-se construir mobiliário e coleções de produtos artesanais para serem comercializados dentro dos preceitos da economia solidária.

Os objetivos dos projetos envolvidos neste programa são produzir tecnologia social reaplicável seja através do uso de alta ou baixa tecnologia. Pretende-se construir um programa a partir de projetos que já estão sendo conduzidos e todos em relação direta com temas urbanos, políticos e sociais atuais. Os projetos pretendem produzir dispositivos de alta e baixa tecnologia como formas de potencializar as ações das comunidades em estado de vulnerabilidade social nas lutas contra hegemônicas.

Objetivos específicos: 1. Produção de conhecimento desierarquizado e de instrumentos e dispositivos para ações de resistência ao capitalismo neoliberal que se estende sobre todo o espaço urbano expropriando o comum; 2. Confecção de mapas que envolvem objetivos políticos estratégicos: a) dar visibilidade aos conflitos socioambientais; b) ser instrumento de pressão e denúncia; d) ter um caráter educativo gerando conhecimento e tecnologias sociais através da organização e mobilização; f) contribuir no planejamento das ações que envolvem os movimentos sociais, indicando caminhos estratégicos e parcerias; 3. Confecção de artesanias e de arquitetura tática que possa: g) auxiliar na autogestão dos espaços de produção do comum como os ocupas, as vilas e favelas os espaços culturais, as hortas urbanas, produzindo mobiliário, artesanato, arquitetura de auto -construção; etc. 4. Produção de eventos que envolvam a universidade (ensino, pesquisa e extensão) de maneira indissociada. 5. Produção de livros, revistas e material gráfico contendo artigos e manuais de faça-você-mesmo.

As metodologias desenvolvidas em cada projeto deste programa terão suas estratégias voltadas para as necessidades do projeto naquele momento. Mas de maneira geral todo o processo de produção do conhecimento e de construção das ações deverão conter as noções básicas da tecnologia social. No caso dos projetos envolvendo as cartografias (Cartografias Emergentes e Multitude), que para nós é uma metodologia de pesquisa e ação, pretende-se: documentar, clarear e sintetizar informações, revelar relações, expandir o significado dos dados. Fazer um mapa implica sintetizar e confinar situações complexas e em constante movimento em uma espécie de diagrama. eRsentar a complexidade política e econômica do cotidiano em um plano bidimensional não só remete a questões sociais, mas também à representação geográfica que possuam o espaço físico e territorial como lugar onde a vida se dá. Portanto as ações serão registradas on-line, através de plataformas de mapeamento georreferenciado e blog. Toda a atividade terá como produto peças gráficas, como diagramas e cartografias desenvolvidas a partir de dados coletados e em colaboração com as comunidades locais envolvidas. Alem disto pretende-se através da realização de eventos criar parcerias e conexões com pessoas que possuem a mesma linha de trabalho.

No caso dos projetos envolvendo as artesanias, pretende-se criar oficinas de capacitação em artesanato e design aproveitando a nossa vasta experiência em coordenação de projetos como o ASAS - Artesanato Solidário no Aglomerado da Serra (http://projetoasas.org/blog/category/aglomeradas/) e o DESEJACA - Desenvolvimento Sustentável e Empreendedorismo Social no Jardim Canada (http://programadesejaca.wordpress.com). A idéia é produzir artesanias e construir técnicas que possam ser reaplicadas através de manuais e cartilhas que serão disponibilizados para que todos e qualquer um possa criar os produtos através da informação. Toda a produção deste programa deve ter uma noção clara de Copyleft e ativar processos de empoderamento social e autonomia de grupos sociais. As oficinas e laboratórios serão nômades e deverão ter infra-estrutura nômade para atuar em diversas comunidades.

Os 3 projetos que compõem este programa são:

1. MAPEANDO O COMUM: CARTOGRAFANDO A CULTURA MULTITUDINÁRIA Este projeto visa promover encontros, debates, reflexão, exposição e produção de obras artísticas, tendo como ponto de confluência o embate com o termo Multidão. Teve início no projeto Multitude que foi um acontecimento de arte contemporânea formado por encontros, debates, exposição, performances, apresentações cênicas e produção crítica, tendo como ponto de confluência o embate com o termo multidão. Partimos da observação de que nos últimos anos vêm surgindo uma série de obras e projetos que se relacionam com a ideia de multidão em vários aspectos, de forma mais conceitual ou como reflexo de um contexto específico. O projeto reuniu algumas dessas obras artísticas em torno de um recorte temático, pautado pela discussão do termo nos campos filosóficos, sociológicos e políticos, propondo incorporar práticas multitudinárias para a condução dos eventos, em uma abordagem tanto de forma quanto de conteúdo. Dentro deste projeto, iniciamos um trabalho com outro projeto internacional denominado Mapping the commons ou Mapeando o comum e já realizamos alguns workshops mapeando o comum nas cidades de Belo Horizonte e São Paulo. Ele faz parte de uma série de projetos que compõem as ações do Grupo de Pesquisa INDISCIPLINAR. Neste grupo, uma das linhas de pesquisa é "Cultura e Território: A cultura e seus diversos campos teóricos relacionando cultura e natureza, cultura e civilização, cultura erudita e cultura popular, a lógica cultural do capitalismo tardio, cultura na era do capitalismo cognitivo, cultura e mercado, cidades criativas, cultura e território, cultura e resistência positiva, cultura e biopolítica, ativismo cultural, artes e artesanias, tecnologia social, criação e resistência"e possui alguns projetos de pesquisa e extensão aprovados com bolsistas do Proex e do Prpq vinculados a esta pesquisa. Também aprovamos e estamos desenvolvendo uma pesquisa CNPQ/ MINC denominado "CARTOGRAFIAS EMERGENTES. A distribuição territorial da produção cultural em Belo Horizonte" e uma das etapas deste projeto é o desenvolvimentos do Mapeamento do Comum em Belo Horizonte e em São Paulo. O Mapeando o comum em BH aconteceu em partes em dois eventos, tanto no VAC 2013 dentro do projeto Cartografias Biopotentes, quanto no Cartografias do Comum que foi realizado junto do Espaço Tim do Conhecimento e além de mostra, exposição, tivemos um seminário Internacional denominado Multiplicidades. O objetivo geral: Desenvolver um projeto acadêmico e de investigação conceitual, teórica e prática tendo como ponto de confluência o embate com o termo Multidão. A idéia deste projeto é envolver a sociedade como um todo para ampliar a produção do conhecimento sobre o comum urbano e as práticas artísticas que potencialização a geração de zonas autônomas temporárias e espaços autogestionados, processos de urbanismo performativo, urbanismo tático, estratégicas que adotem o sistema p2p como princípio fundamental. Objetivos específicos: Promover encontros e debates, reflexão, exposição, livros, artigos científicos; seminários e palestras; produção de obras artísticas e culturais envolvendo tecnologias e suportes múltiplos. Desenvolver glossários e textos teóricos e gerar material acadêmico envolvendo as pesquisas do Grupo de Pesquisa Indisciplinar. Ampliar as ações do grupo de pesquisa para outras metrópoles brasileiras e iberoamericanas agregando novos pesquisadores e novos processos de cartografia.


2. ARTESANIAS DO COMUM. Coordenação: Professora Dra. Natacha Rena. Artesanias do Comum é um projeto extensionista que pertence ao Programa IND.LAB_Laboratório Nômade do Comum, e possui ações que trabalham processos artesanais, acreditando que a autogestão dos espaços e de diversas ações colaborativas podem ser desenvolvidas dentro de uma lógica tática de confecção dos próprios utilitários, mobiliário, e arquitetura. A ênfase nas artesanias também pressupões o uso de materiais recicláveis e reutilizados e a produção coletiva dos espaços e pretende-se construir mobiliário e coleções de produtos artesanais para serem comercializados dentro dos preceitos da economia solidária. O objetivo deste projeto é produzir tecnologia social reaplicável através da produção de artesanal. Pretende-se conduzir o projeto através uma relação direta com temas urbanos, políticos e sociais atuais. Os projetos pretendem produzir dispositivos de baixa tecnologia como forma de potencializar as ações de grupos que atuam nas lutas contra hegemônicas. 1. Produção de conhecimento desierarquizado e de instrumentos e dispositivos para ações de resistência ao capitalismo neoliberal que se estende sobre todo o espaço urbano expropriando o comum. 2. Confecção de objetos que envolvem objetivos políticos estratégicos: a) dar visibilidade aos conflitos socioambientais; b) ser instrumento de pressão e denúncia; d) ter um caráter educativo gerando conhecimento e tecnologias sociais através da organização e mobilização; 3. Confecção de artesanias e de arquitetura tática que possa: g) auxiliar na autogestão dos espaços de produção do comum como os ocupas, as vilas e favelas os espaços culturais, as hortas urbanas, produzindo mobiliário, artesanato, arquitetura de auto -construção; etc. 4. Produção de eventos que envolvam a universidade (ensino, pesquisa e extensão) de maneira indissociada. 5. Produção de livros, revistas e material gráfico contendo artigos e manuais de faça-você-mesmo.

3. COPMARTILHAMENTO E DISTRIBUIÇÃO DO COMUM


Infraestrutura do IND.LAB O laboratório funciona no quinto andar da Escola de Arquitetura e possui 5 computadores de mesa, 2 notebooks, uma impressora, 3 câmeras de fotografia e vídeo, uma oficina de marcenaria de mão completa, uma oficina de estamparia completa, uma oficina de tecelagem completa. Também possui mesas, cadeiras, armários e material de funcionamento cotidiano.

Justificativa (primeiro geral falar do neoliberalismo e da metrópole texto ead inspire + justificar tb depois com os 3 projetos envolvidos) lembrar da nossa linha temática 17: ciência, tecnologia e inovação social subtema: Tecnologias sociais: a)

INTRODUÇÃO

“A metrópole é para a multidão o que a fábrica era para a classe operária industrial” (HARDT e NEGRI, 2009)

As políticas públicas neoliberais, impostas pelo Estado-capital sobre o território urbano, configuram evidências claras de como a cidade vem se tornando um palco de disputa territorial. Se a fábrica configurava o campo de exploração do trabalho até os anos 70, atualmente o Estado-capital extrai a mais-valia em todo o espaço. Em tempos de capitalismo cognitivo, no qual a tendência da produção cotidiana no mercado vem construindo redes de trabalho voltadas para setores criativos e sociais, as biopolíticas implementadas vão consolidando uma dinâmica de produção do espaço complexa, realizando processos de exclusão social em diversos níveis. Compreender estas as novas estratégias de políticas territoriais é fundamental para mapearmos os campos de luta mais importantes nas nossas cidades.

O que está em disputa, a partir dos movimentos multitudinários detonados desde 1999 em Seatle, e que ganharam força no Brasil a partir de junho de 2013, é, principalmente, o urbano. Urbano aqui entendido como um amplo platô que envolve as ações no espaço-tempo (públicos, privados, comuns) dissolvendo a noção dicotômica cidade x campo, rua x rede, casa x trabalho. Segundo Hardt e Negri, num texto intitulado Metrópoles, a metrópole é para a multidão o que a fábrica era para a classe operária industrial, o que poderia nos induzir a pensar nas metrópoles como territórios conectados nos quais as ações biopolíticas e de controle dos corpos e das espécies se dão com maior intensidade. Ao mesmo tempo, poderíamos pensa-las como o lugar no qual a biopolítica das resistências primeiras são também potentes, possibilitando encontros que, apesar de todas as estratégias para evita-los, se dão com maior ênfase em processos constantes de contaminação. A metrópole, para Hardt & Negri,

“poderia ser considerada em primeiro lugar o esqueleto e a espinha dorsal da multidão, ou seja, o entorno urbano que sustenta sua atividade e o entorno social constitui um lugar e um potente repertório de habilidades no terreno dos afetos, das relações sociais, dos costumes, dos desejos, dos conhecimentos e dos circuitos culturais (...) a metrópole é a sede da produção biopolítica porque é o espaço do comum, das pessoas que vivem juntas, compartindo recursos, comunicando, intercambiando bens e ideias.” (HARDT; NEGRI, 2009: p.255-256)

Mas sabemos que, a metrópole é também o lugar, por excelência, da expropriação deste comum produzido no encontro e na criação das novas formas de vida e de luta. Em tempos de Brasil maior[1], sétima economia mundial, celeiro para oportunidades de expansão do capitalismo global, torna-se cada dia mais evidente que é nas metrópoles (para além da exploração dos bens naturais comuns como minérios e petróleos) onde há uma tentativa de expropriação do comum pelo Estado-capital com maior ênfase e violência. Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, são exemplos de cidades globais eleitas para sediar grandes eventos e para sofrer grandes transformações territoriais via projetos urbanísticos neoliberais em grande escala, e têm se tornado, ao mesmo tempo, celeiro de lutas urbanas e de resistências radicais, conformando corpos insurgentes multitudinários que vêm se expandindo e contaminando, não somente os grupos políticos oficiais e não oficiais já existentes, mas trazendo pra dentro das lutas artistas, pensadores, professores universitários, grupos organizados e desorganizados das favelas, advogados, e, inclusive, políticos de esquerda que acabam por se verem pressionados para assumir lutas desconfortáveis politicamente.


Nesta conjuntura política de revoltas conectadas em rede pergunta-se: o que pode a arte?


2. CAPITALISMO COGNITIVO E BIOPOLÍTICA NA METRÓPOLE CONTEMPOR NEA O sistema capitalista global contemporâneo, que conecta indissociadamente Estados e empresas, pode ser também denominado de Império ou neoliberalismo. Diferente do capitalismo fordista, no qual a mais-valia era prioritariamente explorada via a força de trabalho nas fábricas, atualmente se dá via capital em expansão dirigindo a exploração para todo o território metropolitano, dentro e fora das fábricas. Além disto, o tempo do trabalho envolvido na produção do capitalismo industrial referia-se ao tempo da jornada oficial das leis trabalhistas. Atualmente, o tempo de expropriação do capitalismo pós-fordista, imperial, neoliberal, ocupa todo o tempo de nossas vidas. A exploração capitalista atual passa pela captura dos desejos e neste sentido todo um sistema simbólico abduz a subjetividade e nos torna trabalhadores e consumidores obedientes, dentro de um sistema capitalista financeiro, assistimos ao surgimento de um novo homem: o homem endividado. Além de vermos configurar (via Estado-capital) a construção de sujeitos dóceis (próprios da sociedade disciplinar em que o controle incidia – e ainda incide – diretamente sobre os corpos), estamos imersos em práticas de controle mais sutis e flexíveis, uma tomada da subjetividade que nos torna controlados biopoliticamente. Segundo David Harvey,

“o neoliberalismo é em primeiro lugar uma teoria das práticas político-econômicas que propõe que o bem-estar humano pode ser mais bem promovido liberando-se as liberdades e capacidades empreendedoras individuais no âmbito de uma estrutura institucional caracterizada por sólidos direitos à propriedade privada, livres mercados e livre comércio. O papel do estado é criar e preservar uma estrutura institucional apropriada a essas práticas; o Estado tem de garantir, por exemplo, a qualidade e a integridade do dinheiro (...) o neoliberalismo se tornou hegemônico como modalidade de discurso e passou a afetar tão amplamente os modos de pensamento que se incorporou às maneiras cotidianas de muitas pessoas interpretarem, viverem e compreenderem o mundo. O processo de neoliberalização, no entanto, envolveu muita destruição criativa, não somente dos antigos poderes e estruturas institucionais (chegando mesmo a abalar as formas tradicionais de soberania do Estado), mas também das divisões do trabalho, das relações sociais, da promoção do bem-estar social, das combinações de tecnologias, dos modos de vida e de pensamento, das atividades reprodutivas, das formas de ligação à terra e dos hábitos do coração.” (HARVEY, 2012, p:12-13)

Para Hardt & Negri (2001), este sistema neoliberal que atua na lógica imperial em contraste com o imperialismo, não estabelece um centro territorial de poder, nem se baseia em fronteiras ou barreiras fixas pois é um aparelho de descentralização e desterritorialização global “que incorpora gradualmente o mundo inteiro dentro de suas fronteiras abertas e em expansão, já que o Império administra entidades híbridas, hierarquias flexíveis e permutas plurais por meio de estruturas de comando reguladoras.” (HARDT & NEGRI, 2001:12-15)

Mas este sistema global enredado pelo Estado-capital, baseado na democracia representativa, no qual nos deparamos com o Império, não deveria, de modo algum, segundo os autores, nos deixar saudosos das antigas formas de dominação, porque esta transição para o Império e seus processos de globalização e mundialização conexionista, nos oferece novas possibilidades de redes insurgentes que possibilitam a ampliação das lutas pela libertação. Estas singularidades globais que vão surgindo como resistência ao neoliberalismo vêm tecendo uma nova forma de luta que envolve o que chamam de multidão. Para os pensadores estas forças criadoras da multidão que sustentam o Império são capazes também de constituir “um Contra-império, uma organização política alternativa de fluxos e intercâmbios globais. Os esforços para contestar e subverter o Império, e para construir uma alternativa real, terão lugar no próprio terreno imperial.” (HARDT & NEGRI, 2001, p:12-15) Os autores afirmam que é na metrópole que as novas configurações de resistência se configuram com maior intensidade, e em tempos de produção biopolítica nas quais as forças produtivas que movem o capitalismo pós-fordista, trabalhando principalmente com ideias, afetos e comunicação, não estão mais simplesmente concentradas nas fábricas, mas sim espalhadas por terreno social urbano, ou seja, por toda a metrópole, lugar privilegiado onde as múltiplas forças residem e interagem (HARDT & NEGRI, 2014).

De qualquer forma, para pensar o urbanismo e a produção do espaço no sistema neoliberal imperial, é preciso estarmos atentos à tomada do Estado pelo capital, que agora atua de dentro dos processos políticos institucionais e por meio de mecanismos de gestão pública, gerando políticas e instrumentos urbanísticos que fazem parte, muitas vezes, do próprio Estatuto da Cidade[2]. Atualmente, um dos exemplos mais claros disto, é o instrumento denominado Operação Urbana Consorciada[3], uma espécie de Parceria Público Privada que determina as regras do jogo para o uso e a construção do espaço, gerando territórios determinados por manifestações de interesse do próprio mercado, conformando territórios pré-definidos para investimentos e projetos que gerem mais-valia para o Estado através de títulos[4]. Visivelmente uma passagem das formas de exploração da mais-valia que se dava na fábrica em tempos de capitalismo fordista, e agora se dá no território urbano gerando lucro via renda, dentro da lógica do capitalismo financeiro pós-fordista ou rentista[5].

Do ponto de vista urbanístico, estas políticas públicas se dão em diversos níveis e, mesmo quando não há o uso explícito destes instrumentos neoliberalizantes, a lógica das gestões das cidades contemporâneas, tanto no mundo quanto no Brasil, seja nos governos de esquerda, seja nos governos de direita, é a lógica da cidade-empresa, da especulação imobiliária, da gentrificação (enobrecimento e expulsão dos pobres que não conseguem viver mais nas áreas valorizadas), das políticas de revitalização (substituindo vidas pobres por vidas ricas e turismo), das intervenções utilizando equipamentos culturais (museus, bibliotecas, salas de música e afins), do planejamento estratégico que faz surgir novas centralidades urbanas para que o capital se expanda para novos territórios e possa fazer circular recursos dentro do sistema empreiteiras-bancos. Estas lógicas encabeçam o eixo da gentrificação de grandes regiões, principalmente nos centros das cidades que já detêm meios de transporte e serviços abundantes. E, perversamente, em muitos momentos, é utilizando o discurso da arte e da cultura, da melhoria do espaço, do embelezamento e da segurança que o Estado-capital com seu biopoder (poder sobre a vida) avança por toda a cidade expropriando os bens comuns já existentes ou em processo de formação.

Segundo Pelbart (2011), o biopoder está ligado com a mudança fundamental na relação entre poder e vida[6]. Na concepção de Foucault, o biopoder se interessa pela vida, pela produção, reprodução, controle e ordenamento de forças. A ele competem duas estratégias principais: a disciplina (que adestra o corpo e dociliza o indivíduo para otimizar suas forças) e a biopolítica[7] (que entende o homem enquanto espécie e tenta gerir sua vida coletivamente). Nesse sentido, a vida passa a ser controlada de maneira integral, a partir da captura pelo poder, do próprio desejo do que dela se quer e se espera, e assim o conceito de biopoder se expande para o conceito de biopolítica. Há uma diluição dos limites entre o que somos e o que nos é imposto, à medida que o poder atinge níveis subjetivos passando a atuar na própria máquina cognitiva que define o que pensamos e queremos. Segundo o autor: “Nunca o poder chegou tão longe e tão fundo no cerne da subjetividade e da própria vida, como nessa modalidade contemporânea do biopoder” (PELBART, 2003, p:58), que podemos chamar de biopolítica.

Esse contexto se deve ao fato do poder Imperial abarcar tudo aquilo que representaria o comum numa estratégia biopolítica, ou seja, expropriando as linguagens, símbolos, imagens, enfim, todos os meios compartilhados pelos indivíduos, através dos quais estes tornam-se capazes de se comunicar e de, assim, produzir algo em sociedade. Em tempos de capitalismo cognitivo, criativo e imaterial, a produção do comum baseia-se na colaboração e nos processos criativos e afetivos que incorporam todos os níveis da vida. Todo o tempo é produtivo e o comum que compartilhamos serve de base para a produção futura, numa relação expansiva. Para Hardt e Negri, isto talvez possa ser mais facilmente entendido em termos da comunicação como produção, inclusive de afetos, pois só podemos comunicar criativa e colaborativamente utilizando linguagens, símbolos, idéias que constituem novas imagens, símbolos, idéias e relações comuns. Para os autores, hoje essa relação entre a produção, a comunicação e o comum é a chave para entender toda atividade social e econômica própria do capitalismo pós-fordista. (HARDT; NEGRI, 2005, p:256-257)

A ampliação desta acepção de biopolítica adotada por Hardt e Negri situam o conceito como algo que acontece plenamente na sociedade de controle, na qual o poder subsume toda a sociedade, suas relações sociais e penetra nas consciências e corpos. Sendo assim, as subjetividades da sociedade são absorvidas no Estado. Mas a consequência disso é a explosão dos elementos previamente coordenados e mediados na qual as resistências deixam de ser marginais e tornam-se ativas no centro de uma sociedade que se abre em redes (HARDT & NEGRI, 2001, p:44). Isso significa que o poder desterritorializante que subsume toda sociedade ao capital, ao invés de unificar tudo, cria paradoxalmente um meio de pluralidade e singularização não domesticáveis, incontroláveis e incapturáveis. Assistimos a esta situação no Brasil, efetivamente e em grande escala, a partir de junho de 2013. A multidão que se formou, contaminando e hibridando diversas pautas libertárias e progressistas, vem crescendo e tomando novas formas a cada dia. Para Pelbart (2003) ou para Hardt y Negri (2001, 2005, 2009, 2014), esta inversão de sentido do termo foucaultiano “biopolítica”, pode deixar de ser o “poder sobre a vida”, para tornar-se o “poder da vida”, o que poderíamos chamar também de biopolítica da multidão ou, segundo Pelbart (2003), biopotência.


3. O COMUM COMO PROJETO POLÍTICO CONSITUINTE DA MULTIDÃO

As políticas neoliberais (mencionadas anteriormente), incorporadas ao Estatuto da Cidade, que vem permeando todo o discurso político urbanístico no Brasil, se fazem presente desde propostas de revitalização de áreas centrais, passando pelo discurso da melhoria das condições de mobilidade urbana, e culminando na construção de novas centralidades em regiões periféricas abandonadas historicamente pelo Estado. Em todo o mundo, mais visivelmente em alguns países que receberam esta grande investida do capitalismo Imperial como Espanha e Grécia, hoje podemos assistir ao estrago social e econômico destas políticas, que nada mais são do que formas de endividamento do Estado e do cidadão[8]. Com a promessa de desenvolvimento, obras de infraestrutura, projetos para megaeventos, construção massiva de habitação, criaram com eficácia um exército humano endividado e quebraram os caixas do Estado. Estes movimentos multitudinários em todo o mundo, como o que ocorreu a partir do Parque Gezi na Turquia contra a construção de um shopping center em lugar de uma praça pública faz surgir uma multidão enfurecida que percebe, de maneira muito evidente, os mecanismos Imperiais do Estado-mercado que vem expropriando direitos garantidos constitucionalmente e transferindo os bens comuns e a produção do comum para o universo do privado. Mas estas insurgências já prefiguravam uma radicalização popular contra este Estado-capital globalizado desde Seattle, e alguns autores como Hardt e Negri, Lazzarato e Harvey, vêm traçando uma cartografia destas dinâmicas do novo capital, e também da rebeldia popular que insurge quando se retira radicalmente o bem estar social defendido como base constitucional de países democráticos.

Em 2012, Hardt e Negri (2014) escrevendo sobre os movimentos multitudinários a partir da primavera árabe em 2011, afirmam que desde a década de 1990 este movimento neoliberal Imperial avançou inclusive sobre as democracias de esquerda dos governos de alguns dos maiores países da América Latina, mesmo quando estes governos tinham chegado ao poder graças ao apoio de poderosos movimentos sociais – movimentos contra o neoliberalismo e a favor da autogestão democrática do comum (o que para nós no Brasil fica mais claro a cada dia). Em muitos casos, esses governos, à princípio progressistas, promoveram grandes avanços sociais, ajudando vastos contingentes populacionais a sair da pobreza, abrindo possibilidades de participação democrática e rompendo relações externas de dependência muito antigas, em termos de economia global, de mercado mundial e de imperialismo norte-americano. Entretanto, mesmo quando esses governos estão no poder e, em especial, quando repetem as práticas dos antigos regimes, os movimentos sociais continuam a luta, agora direcionada contra os governos que afirmam que os representam. (HARDT & NEGRI, 2014)

Dentro da própria lógica capitalista de produção coletiva, colaborativa e em rede, que é própria da lógica do capitalismo pós-fordista, surgem também novas formas de colaboração e de fazer-com que recusam os mecanismos representativos da democracia burguesa, mesmo quando sob as siglas de esquerda. Estas resistências assistem à expropriação do comum, desde os bens comuns como a água, as florestas, as praças e parques, ou até mesmo a expropriação da produção do comum em processos informais dos novos modos de vida que não cabem na lógica do Estado-capital. Para esta nova geração conectada em redes múltiplas que se superpõem globalmente, a democracia representativa não corresponde mais à produção dos desejos por mais direitos, ou por uma vida na qual não apenas se participa de processos eleitorais garantindo plenos-poderes aos governantes. A crise da representatividade abarca uma crescente necessidade por participação direta, por democracia real, por participação-decisão como palavras inseparáveis. Portanto, independente da crise do capitalismo global, assistimos ao surgimento de uma nova ontologia do precariado própria da multidão, configurada ao mesmo tempo: a) por um homem endividado (LAZZARATO, 2014 ou HARDT & NEGRI, 2014) complemente imerso no capitalismo financeiro, que tem a sua riqueza criativa expropriada constantemente pelo fluxo econômico; b) por um homem constituído pela lógica do fazer-junto, do fazer-com, criativa e colaborativamente.

Para Negri (2010) esta multidão possui também um nome de singularidades não representáveis, que assim como um conceito de classe, é sempre produtiva e está sempre em movimento. A multidão seria então, um ator social ativo, uma multiplicidade que age; seria também o conceito de uma potência que desconfia da representação e em contraste com de povo, porque é uma multiplicidade singular, um universal concreto. O povo constituía um corpo social; a multidão, não, porque ela é a carne da vida e, ao contrário da pura espontaneidade, é como algo organizado num corpo sem órgãos, fora da organização do Aparelho de Estado, ou seja, é um ator ativo de auto-organização, nos introduzindo num mundo completamente novo, dentro de uma revolução que já está acontecendo. A multidão é para o autor, ao mesmo tempo, sujeito e produto da praxis coletiva, assim, como também, cada corpo é multitudinário, ou pode tornar-se uma multidão, formando redes e potencializando contaminações que desejam liberdade na coletividade. A multidão é um monstro híbrido, uma legião, e um projeto que se faz cruzando-se multidão com multidão, misturando corpos operando a mestiçagem e a hibridação, já que o próprio corpo é trabalho vivo e recusa, maquinicamente, a organização constante operada pelo sistema capitalista, portanto, expressão e cooperação, enfim, o poder constituinte da multidão é algo diferente, não é apenas uma exceção política, mas uma exceção histórica, é um produto de uma descontinuidade temporal, radical, metamorfose ontológica, ou seja, a multidão é um nome ontológico de produção de resistências ativas contra sobrevivência parasitárias que constituem a engrenagem da máquina capitalista contemporânea (NEGRI, 2010).

Toda a estrutura política da modernidade ocidental se construiu como política da totalidade e da universalidade, mesmo as esquerdas marxistas que pretendiam uma crítica radical ao projeto burguês. Ou seja, o movimento de Seattle abriu uma nova possibilidade de criação de uma política da multiplicidade multitudinária. Segundo o pensador, o êxito do livro de Negri e Hardt denominado Multidão, “seguramente está relacionado com esta direção, indicada não sem ambiguidade: sair do conceito de povo, categoria que aponta ao uno, reivindicando ao mesmo tempo uma fundação marxista desta transição.” (LAZZARATO, 2006, p:17)

“Com as jornadas de Seattle tem se criado um novo campo de possibilidades (que não existiam antes do acontecimento, chegou com ele). O acontecimento da a ver o que uma época tem de intolerável, mas também emergir novas possibilidades de vida. Esta nova distribuição de possíveis e de desejos abre por sua vez um processo de experimentação e de criação. Há que se experimentar o que implica a mutação da subjetividade e criar os agenciamentos, dispositivos e instituições que sejam capazes de desenrolar novas possibilidades de vida, recebendo os valores que uma nova geração.” (LAZZARATO, 2006, p:36)

Neste texto, nos interessa pensar portanto, junto com Lazzarato, que é possível sair desta lógica binária entre socialismo estatal totalitarista-universal ou neoliberalismo generalizado do Estado-capital financeiro. Para compreender as relações de força na sociedade contemporânea e realizar um diagnóstico mais próximo da realidade das lutas globais, seria preciso investir em um pensamento-ação, através da filosofia-práxis, que possa nos abrir um campo teórico mais complexo fora do universo da totalidade e que nos permita “entrar no mundo do pluralismo e da singularidade, onde as conjunções e as disjunções das entre as coisas são em cada momento contingentes, específicas e particulares e não remitam à nenhuma essência, substância ou estrutura profunda que as possam fundar” (LAZZARATO, 2006, p.19) Este pensamento-ação nos permite compreender-experimentar a realidade política atual a partir das relações exteriores, fora dos fundamentos, das raízes profundas, dos modelos arborescentes nos quais cada relação só expressa um dos aspectos de alguma coisa. Aqui uma escolha pela teoria pós-estruturalista da multiplicidade, que afasta as relações binárias para compreensão do mundo político, social e econômico, nos lança num campo de pensamento complexo e configurado em múltiplos platôs que se conectam transversalmente. Aponta-se para um pensamento da imanência, através do qual possamos constituir uma ontologia pluralista formada por singularidades que compõem as resistências ao Império neoliberal do capitalismo financeiro, que segundo Negri & Hardt, poderia ser chamado de processos multitudinários, construindo um projeto político de produção do comum. Assim como Lazzarato, Hardt & Negri nos apontam a resistência em Seattle no ano de 1999 como um primeiro indício claro desta nova formação popular insurgente. Segundo os autores, o que diferencia a multidão de povo (diretamente relacionado ao estado-nação) ou de massa (diretamente relacionado ao mercado) é que ela é um conjunto de singularidades que possui a potência da construção do comum, fora da lógica socialista ou capitalista. Para eles "quando você se tornar uma singularidade, jamais será um eu integral. As singularidades são definidas por meio de um ser múltiplo internamente e de um descobrir a si mesmo externamente apenas em relação aos outros." (HARDT & NEGRI, 2014, p:57)

Sem um delineamento preciso destas insurgências que formam grupos de singularidades não mais baseados nas identidades de classe, de gênero, de raça, fora da lógica dos sindicatos e dos movimentos organizados, amplia-se a impossibilidade de desenhar com maior clareza a nova classe multitudinária configurada nas resistências ao neoliberalismo. Estas insurgências vêm se expandindo e ganhando as ruas de todo o mundo, não necessariamente em países em crise econômica, mas também no Brasil, em pleno processo neodesenvolvimentista. Há uma construção em tempos táticos e estratégicos de resistências mundiais contra o urbanismo neoliberal, que se configura performaticamente nas ruas e nas redes, utilizando ao mesmo tempo processos destituintes (via ação direta, manifestações, ações judiciais) e constituintes (via ocupas e acampadas, produção de cultura, arte, textos, vídeos, imagens e novos modos de vida).

Hardt e Negri em um pequeno e precioso livro denominado Declaração, escrito após a jornada de acampadas que ocorreram por todo o mundo em 2011, dão continuidade ao projeto de mapeamento da multidão e nos ofertam uma sintética e potente análise dos processos revolucionários ressaltando que a estrutura rizomática multitudinária é coletiva e recusa toda forma de ordenação vertical, assim como, o processo biopolítico não se limita à reprodução do capital com uma nova relação social, mas sim, apresenta também o potencial de um processo autônomo que poderia destruir o capital e criar algo completamente novo. (HARDT & NEGRI, 2014)

É interessante observar que desde 2011, os movimentos multitudinários (em todo o mundo) ocupam praças e ruas, reforçando a luta contra projetos neoliberalizantes de privatização do espaço público e, nestes processos de ocupas, apesar dos curtos espaços de tempo, surgem múltiplos processos constituintes de uma outra sociedade que pode se organizar independente da lógica Estado-capital da democracia representativa, formando novas redes afetivas e novas formas democráticas, novas modos de vida baseados na produção do comum (em defesa dos bens comuns e em processos constituintes de modos de organização em-comum). Os acampamentos são uma grande fábrica para a produção dos afetos sociais e democráticos, constituindo-se uma plataforma para o desenvolvimento de novas formas políticas nas quais o autodidatismo possa ser organizado como um exemplo de acesso livre ao comum, incluindo informações, conhecimentos, livre de obstáculos financeiros e também dos obstáculos provenientes do dogmatismo e da censura. Sendo assim, a produção do conhecimento se torna um comum por excelência. Para os autores, tornar-se comum é uma atividade contínua, orientada pela razão, vontade e desejo da multidão, que deve passar por uma educação de seu conhecimento, pela criatividade, pelos afetos políticos inovadores, para que as decisões sobre o comum sejam tomadas por meio da participação-decisão democrática, e não por meio de representantes eleitos. (HARDT & NEGRI, 2014)

Na esteira destes movimentos insurgentes globais, a ocupação massiva das ruas no Brasil em junho de 2013 fez parte de um processo mundial de resistência ao neoliberalismo, que se destacou com muita evidência nos processos de construção de grandes obras para a Copa do Mundo. Compreender que este novo movimento faz parte de um processo global é fundamental para compreender tanto os processos destituintes quanto os constituintes que estão sendo realizados no país desde junho de 2013. Isto também amplia a discussão para fora da simples lógica nacional envolvendo partidos políticos definidos e governantes específicos. Perceber que no Brasil, tanto os arquitetos e urbanistas quanto os políticos de esquerda, contribuíram e contribuem para a realização das Parcerias Público Privadas e para a privatização dos bens comuns, nos auxilia no entendimento das revoltas locais.

Nesses movimentos multitudinários globais, a política é uma ontologia plural: o pluralismo das lutas, que emergem das tradições divergentes e expressam objetivos diferentes, combina-se com a lógica cooperativa e federativa da assembleia para criar um modelo de democracia constituinte, em que essas diferenças são capazes de interagir e se conectar umas com as outras, formando uma composição compartilhada. Esta pluralidade de movimentos contra o capital global, contra a ditadura das finanças, contra os biopoderes que destroem o planeta, surgem em busca do acesso livre e compartilhado do comum e de sua autogestão; discutir, aprender, ensinar, estudar, comunicar-se e participar das ações: essas são algumas das formas de ativismo, constituindo o eixo central da produção de subjetividade numa ontologia plural da política que é colocada em prática por meio do encontro e da composição de subjetividades militantes.

É no território metropolitano que estas lutas multitudinárias geram um contorno plural, singular e coletivo de forma espacial, ganhando visibilidade e forçando o Estado a repensar as formas burocráticas e pouco participativas que vêm imperando na construção dos planos via parcerias público-privadas. Ou seja, a produção do comum é o que já acontece no trabalho biopolítico imaterial do cotidiano, a metrópole é onde esta biopotência ativa da multidão ganha intensidade e dimensão, e portanto, a constituição do comum nos processos insurgentes contra o Estado-capital fazem crescer novas formas de vida que vão tornando-se desejo de uma ampla gama de jovens e minorias até então excluídas dos processos democráticos, tanto no Brasil quanto no mundo.

Em meio a este caldo biopolítico da multidão, vemos também o cruzamento de grupos e sujeitos antes isolados e marginais ao processo das lutas urbanas organizadas, como: pixadores, funkeiros, rapeiros, prostitutas, pop de rua, skatistas, vendedores ambulantes, estudantes. Esta mistura maluca, híbrida, biopolítica, também vem assumindo formas inusitadas, que fogem ao simples ato de marchar enfileirados nas ruas guiados pelos carros de sons dos sindicatos e partidos, mas se envolvem cada vez mais numa estratégia tática afetiva gerando heterotopias através de festas, carnavais, atos artísticos, intervenções nas redes de forma ubíqua, fazendo cruzar o espaço topológico das redes com o espaço físico das ruas. Também surgem novas formas de construção de novas subjetividades políticas que passam pelas assembleias populares em praças e parques, ou ocupas que vão ocupar tanto o espaço público (do Estado) quanto o espaço privado (do Mercado) através de ações diretas de diversas ordens, gerando situações territoriais autônomas (temporárias ou não). Mas não é somente através de atos curtos e de instantes de lutas que se vê crescer as resistências positivas, diversas ações que envolvem o aparato jurídico e político oficial estão sendo construídas cotidianamente e surgem das conexões multitudinárias redes-ruas. Atitudes antidemocráticas envolvendo a expropriação do comum, que até 2013 eram decisões políticas tomadas somente pelo poder público, agora vêm sendo sistematicamente denunciadas ao Ministério Público. Mecanismos de participação popular, até então abandonados pela sociedade de maneira geral como os espaços das Câmaras do Legislativo, têm sido diariamente ocupadas por movimentos sociais que trazem debates fundamentais para a construção da cidade, envolvendo principalmente o tema do transporte público via movimento Tarifa Zero, ou a Reforma Urbana e a luta pela moradia via movimentos organizados e em expansão como MLB, Brigadas Populares, grupos de pesquisa das universidades e ativistas de diversos setores. Este conjunto destituinte dos poderes tradicionais se soma ao conjunto de ações constituintes que vêm tomando forma e dimensão como é o caso da ocupação cultural Espaço Comum Luiz Estrela, que tem sido referência para diversos grupos minoritários de loucos a feministas, de sem teto à pop de rua, de estudantes à artistas.

A multidão, na defesa do comum, performa novos modos de vida e questiona, com ênfase poética e política, a propriedade privada. Sabe-se que as formas de representação estão em crise, mas é a democracia gerida pelo Estado-capital quem mais sofre com a radicalidade das novas lutas, porque é nela que se escondem todas as redes de perversidades do poder instituído (governos com seus legislativos, executivos e judiciários, mercado, mídias, igrejas, sindicatos, etc). A propriedade privada é a forma mais evidente da democracia burguesa e foi criada para garantir a eternidade das elites no poder. O que se explora é a vida, a vida dos pobres, que somos em tempos pós-modernos, todos nós, os precarizados. Acontece que é nos processos colaborativos em rede que esta nova classe precariada avança insurgente, exigindo democracia real e a construção do comum urbano, livre do Estado e do mercado.

Se desde Seattle, mas com muita intensidade, desde a crise econômica de 2008 nos EUA e na Europa, vivemos uma crescente revolta global conectada contra os processos de expropriação do comum em diversos níveis, experimentamos neste último ano no Brasil: do Parque Gezi em Istanbul, passando pela revolta em Gamonal na Espanha, pelo movimento Fica Ficus em BH, pelo Parque Cocó em Fortaleza ou pelo Parque Augusta em São Paulo, vemos surgir uma multidão de singularidades e grupos artísticos, de ativistas, moradores locais e vizinhos, pop de rua e comerciantes interessados em recuperar o debate político sobre a cidade e a construção do ambiente que pertence às suas vidas cotidianas. A democracia representativa já não mais representa o cidadão comum e vem deixando de lado os interesses de todos para garantir o interesse do mercado que financia o Estado e suas campanhas políticas que garantem a permanência de grupos no poder. Contudo, a sociedade se rebela. O espírito de multidão que encara o Império de frente e exige democracia real e, em muitos casos, o direito de ter os seus bens comuns administrados autonomamente, faz parte destas novas organizações ativistas que trazem a frescura da coleção subjetiva das diferenças e a pauta ampliada das lutas.

Seria também interessante notar que estes movimentos são horizontais, sem lideranças definidas, e possuem uma dinâmica de articulação, que, por ser rizomática, é impossível de cooptar. Vemos o Estado-capital na tentativa desesperada de se aproximar destes movimentos para capturar a sua dinâmica que se recusa a pertencer à lógica do Aparelho de Estado, pois são máquinas de guerra configuradas por maltas híbridos. A autonomia e a autogestão é tudo o que o Estado-capital não pode suportar.


A construção da subjetividade via mecanismos oficiais do poder imperial (grandes mídias) já não convence mais a sociedade com tanta facilidade, e assistimos a uma ampliação dos campos de luta pela construção do comum, seja nas ruas, seja nas redes. Não se trata somente do território verde dos parques e praças, mas também da exigência de função social para a propriedade e o direito de ir e vir via tarifa zero nos transportes, direito de morar. Pode-se detectar essa demanda nos movimentos pró habitação; a força política dos movimentos pela mobilidade; a força estética e afetiva dos movimentos de ocupas culturais. Sabemos que este é um movimento muito maior que possui relações com o fim do esplendor do capitalismo neoliberal e a chegada de um novo mundo biopotente, mundo no qual o poder sobre a vida é substituído pelo poder da vida. Estes novos espaços do comum são habitados por jovens, crianças, artistas, ativistas, militantes de todas as ordens, idosos, comerciantes, gays, lésbicas, bis, trans, queers, e muitas outras categorias e gêneros que representam uma nova sociedade ativa e plural.

Fora da lógica dos movimentos viciados da esquerda clássica, que acredita na ideia unitária de povo, e fora da lógica do mercado, que só pensa nos cidadãos como massa, a multidão é plural e atua no trabalho vivo e imaterial produzido em rede coletivamente e criativamente. Portanto, estancar a força motriz que move estes movimentos não vai ser tarefa fácil para o Estado-capital, já que o que os movem é o amor e o afeto e o próprio sentido ativo da vida.


[1] Brasil maior no sentido de que é um país que hoje é a sétima economia do mundo e se opõe aos devires minoritários para crescer. [2] Estatuto da Cidade - Lei 10.257/00 estabelece diretrizes gerais da política urbana. [3] Operação Urbana Consorciada - OUC é o conjunto de intervenções e medidas coordenadas pelo Poder Público com a participação dos proprietários, moradores, usuários permanentes e investidores privados, com o objetivo de alcançar em uma determinada área transformações urbanísticas estruturais, melhorias sociais e valorização ambiental, podendo ocorrer em qualquer área do município. [4] Importante observar que não é somente no universo do planejamento urbano e dos grandes projetos nas metrópoles que o neoliberalismo domina as políticas públicas, além disto, estas políticas neoliberais ocuparam, no Brasil, o Ministério da Cultura, por exemplo. Não somente com as políticas das leis de incentivo à cultura, que partem do princípio de que o mercado decide o que vai ser financiado e produzido culturalmente no país, mas também, criando políticas culturais que entendem a cidade como empresa e a produção cultural que acontece nela como mercadoria através da lógica das cidades criativas e da economia criativa.


[7] Termo lançado por Foucault, em meados dos anos 1970, se referindo ao momento em que a vida das populações e a gestão desses processos são tomadas pelo poder como objeto político. [8] Vídeo “Se acabó la fiesta” é um documentário que reflete o contexto da arquitetura neoliberal na Espanha. Entrevistas a Felix de Azua, Sir Richard Rogers, Blanca Lleo, Emilio Tuñon, y Luis Mansilla, asim como os diretores da Revista El Croquis e o periodista Llazer Moix. http://www.rtve.es/alacarta/videos/archivos-tema/archivos-tema-se-acabo-fiesta/1269406/ e Vídeo “Españistan”: https://www.youtube.com/watch?v=UJ8-dJ5WCo4

Fundamentaçao teórica (texto longo utilizando conceito de cartografia/ copesquisa enquanto método de trabalho ;para conter os avanços das injustiças conduzidas por um Estado-capital neoliberal + conceito de tecnologia social + falar sobre a importância da cartografia social e ativista, como processo e dos mapas como uma das ações apenas… + falar de tecnopolíticas… pegar o texto do inct que já existe)


Análise conjuntural Os problemas trazidos pelo crescimento exponencial das metrópoles e pela concentração de renda nas mãos de poucos são evidências de um sistema capitalista que promove a exclusão econômica e social. Por toda parte surgem problemas que vão desde inefeciência no abastecimento de água, de energia, de infraestrutura mínima de mobilidade, saúde, segurança ou educação.

Segundo relatório das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos (ONU-Habitat) [1], a América Latina apresenta índices que apontam a diminuição da pobreza, mas o Brasil, contraditoriamente, se torna a sexta maior economia do mundo e o quarto país mais desigual do continente, atrás da Colômbia, que é o terceiro país mais desigual. Este mesmo relatório projeta que a taxa de população urbana chegará a 89% em 2050 e que o índice de urbanização brasileira, além de ser o maior em toda a América Latina entre 1970 e 2010, revela 86,53% da população vivendo nas cidades. Belo Horizonte (a cidade de onde venho) está entre cinco outras cidades brasileiras que posuem a pior distribuição de renda em toda a América Latina. O PIB do país representa 32% do total do PIB do continente, mas seu PIB per capita ocupa a 13ª colocação, abaixo de países como Chile e Argentina. O estudo da ONU-Habitat mostra que o Brasil é apenas a 19ª nação da América Latina em atendimento de saneamento básico. No país, 28% da população mora em comunidades com infraestrutura precária e a grande maioria em situação informal. O índice de moradores de favelas no Brasil é de 26%, ou seja, mais alto do que a média latino-americana. O relatório da ONU-Habitat ressalta também que apesar dos desafios para desenvolver as cidades, a América Latina está prestes a viver um novo ciclo de trasnsformação urbana, com objetivo de garantir a melhoria da qualidade de vida nas cidades, mas o grande desafio é a criação de instrumentos para combater as desigualdades nas regiões metropolitanas.

Observa-se que as economias dos países latinoamericanos crescem a reboque de comoddities ao invés de investirem em conhecimento e desenvolvimento de tecnologia. No Brasil, o estado desenvolvimentista vem investindo quase toda sua energia em megaprojetos para megaeventos. Observamos governos falidos, sob legendas de esquerda, investindo em políticas neoliberais explícitas, vendendo, literalmente, ruas, praças, e territórios inteiros para exploração de recursos naturais não renováveis. De forma assustadora, o estado vem concedendo à iniciativa privada o direito de imaginar e construir a cidade à revelia dos desejos populares. Por toda a parte, sob a lógica cultural do capitalismo tardio, rege o poder público que agencia, em parceria com a iniciativa privada, obras espetaculares que irão representar o seu poder e a sua modernidade. As operações Urbanas estão na moda. No Brasil estamos vivendo um momento pré-eventos internacionais como a Copa do Mundo de 2014 ou as Olimpíadas de 2016. Políticas modernizadoras que envolvem a arte, a cultura e a arquitetura vêm sendo implementada para receber turistas e todo tipo de investimento internacional. A cidade está sendo, literalmente, vendida para o mercado.


Em busca da indisciplina Trazendo a discussão da disciplina, dispositivo do bipoder e do controle da vida e do conhecimento nas sociedades disciplinares a partir do século XVII, que legitimou e organizou as instituições acadêmicas ampliando radicalmente o número de escolas e universidades ao longo do século XIX, para o questionamento do ambiente acadêmico atual no Brasil e em quase todos os países do mundo, podemos perceber que este enquadramento do saber em disciplinas, que, diferente do português, em espanhol significa assignatura, gera um leque de problemas de conduta cotidiana na vida de professores e educadores, que impedem o agenciamento de novas formas pedagógicas e educativas. Há uma exigência nacional que controla as formas de trocar o conhecimento. Necessita-se um enquadramento do conhecimento em disciplinas para que se gerem as grades e matrizes curriculares.

Contraditoriamente, nossas agências de fomento à produção acadêmica que financiamento de pesquisa e extensão no Brasil, via de regra incluem em seus indicadores de avaliação dos Projetos e Programas em editais o indicador da interdisciplinaridade gerando uma esquizofrenia entre os sistemas que compõem o sistema geral do ensino nas universidades brasileiras: relação indissociada entre ensino, pesquisa e extensão. Como os currículos dos cursos, em sua maioria nas universidades brasileiras é organizado em disciplinas estanques, inventa-se formas de relacionar pesquisa e extensão furando o sistema tradicional que é pensado disciplinarmente.

Daí surgem algumas questões de ordem conceitual e política que envolvem projetos de ensino em todas as áreas de conhecimento: Como e para que é importante um saber isolado, íntegro e total? A quem interessa esta divisão do conhecimento em setor, grades, matrizes e categorias? A quem interessa a produção de um conhecimento estanque dentro das escolas e das universidades? A quem interessa um conhecimento taxonômico do mundo e das coisas? A quem interessa a separação entre as disciplinas? E poder-se-ia divagar um pouco mais: Entre natureza e artifício? Entre sujeito e objeto? Entre centro e periferia? Entre espaço mental e espaço vivido? Entre global e local? Entre arte e design? Entre arquitetura e urbanismo?

Sabemos que estas dicotomias nos levam a um grande equívoco próprio do conhecimento acadêmico atual e que é incompatível com a idéia tão difundida da interdisciplinaridade. Pensando nesta situação, sugerimos aqui a Extensão Universitária como o lugar da liberdade e da desierarquização do conhecimento envolvendo o ensino e a pesquisa. Trata-se de pensar estas disciplinas de forma indisciplinar que age simultaneamente dentro e fora dos centros produtores de conhecimento, e que pode adotar um pensamento-ação crítico e de resistência. Isto tudo tem a ver com conhecimento, com potência criativa, com invenção, com política cultural, com política acadêmica, com política pública, com urbanismo, com o direito à cidade. Tudo isto tem relação direta com indignação, com possibilidade do uso livre do mundo. Tudo isto deveria interessar aos artistas, designers, arquitetos e urbanistas. Mais do que difundir a técnica, seria preciso insitar os alunos. técnicos e professores os envolvidos um posicionamento crítico frente ao mundo. Acredita-se que realizar uma atuação militante dentro da universidade exige que se faça um movimento de cruzamento: entre os saberes populares e eruditos, entre os modos de vida da periferia e dos seus técnicos, alunos e professores. Cruzar as fronteiras, territoriais e espaciais, mas também, e principalmente, sociais.

Repensando o ensino que envolve a cultura, a arte, o design, a arquitetura e o urbanismo, teríamos que compreender que são disciplinas indisciplinares que envolvem a vida como um todo e produzem espaços e que estes são políticos e nunca neutros. Entende-se que atualmente tudo é urbano. Entende-se que a produção do espaço urbano é cultural, social, política, econômica, e portanto, indisciplinar por sua natureza híbrida. As antigas cidades fixadas no nosso imaginário como algo delimitado e finito, cercadas por áreas campestres que definem as fronteiras entre o urbano e o rural, não existem mais. Tudo é urbano. Tudo é centro e periferia. Em 91, Saskia Sassen[1] definia o conceito de Cidade Global, afirmando que existem, na verdade, cidades como plataformas de operação de empresas transnacionais, como ponto de encontro de conhecimento e de talentos que fazem a ponte entre atores globais e especificidades locais. Esse status garante, segundo a pensadora, o crescimento, mas cria uma casta de muitos ricos capazes de dominar todo o espaço urbano. Mas como é possível dominar o espaço urbano? Quem gera dispositivos para que ricos dominem o espaço? O estado? O mercado?

Extensão universitárria e tecnologia social Acredita-se que dentro das universidades brasileiras e latino-americanas, a extensão é o ponto de resistência! Segundo o Fórum de Pró-reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras, a Extensão Universitária, sob o princípio constitucional da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, é um processo educativo, cultural, científico e político que promove a interação transformadora entre universidade e outros setores da sociedade[1].

Para nós educadores, pensando no ensino e na produção da arte, do design e da arquitetura, é necessária uma introdução de outras formas para lidar com os processos de criação, que possibilitem novos parâmetros produtivos, que promovam a consolidação de um campo expandido para estas disciplinas, para além do tecnicismo e do mercado de produção em massa (tanto da arquitetura quanto do design industrial), para além da geração de obras (de arte autorais para serem legitimadas por instituições via bienais, etc e, consequentemente, comercializadas em galerias de luxo). É muito importante incentivar um desenvolvimento cultural contaminado pelo cotidiano, e que possa existir de uma maneira mais social e política, criando um ambiente para a existência de ações mais engajadas e militantes. Projetos e ações menos estéticas e mais éticas.

Segundo as próprias diretrizes do Plano Nacional de Extensão Universitária[2] brasileiro, a política extensionista universitária vem desenvolvendo um caráter cada vez mais atuante socialmente. Ao longo dos anos, a partir de 1960, as políticas de extensão universitárias brasileiras vêm caminhando do assistencialismo passou-se ao questionamento das ações desenvolvidas pela extensão que começou a ser percebida como um processo que articula o ensino e a pesquisa, organizando e assessorando os movimentos sociais que estavam surgindo. Portanto, a produção do conhecimento, via extensão, se faria na troca de saberes sistematizados entre o acadêmico e o popular, tendo como conseqüência a democratização do conhecimento, a participação efetiva da comunidade na atuação da universidade e uma produção resultante do confronto com a realidade. Neste sentido nos deparamos com a idéia de geração de tecnologia social, que surgiria através deste confronto desierarquizado de saberes.

Acredita-se que a extensão não deve transferir conhecimento da universidade para uma comunidade, mas sim, construir conhecimento coletivamente num ambiente de troca constante. O objetivo essencial do trabalho extensionista é, ou deveria ser, o de estabelecer uma rede de trocas desierarquizada e compreender que todos aprendem e ampliam os seus horizontes ao longo destas experiências. Nestes projetos de extensão que irei apresentar em seguida, a consciência da atuação política é evocada a todo momento para que a construção das tecnologias sociais não aconteça de forma consciente apenas no nível técnico e burocrático, o que é um risco evidente dentro das estruturas acadêmicas.

Mesmo que a pesquisa seja o movimento acadêmico mais valorizado por todos os órgãos de fomento no Brasil e no mundo, a extensão é o lugar da geração de tecnologia social, conceito que surge claramente no sentido de equilibrar, ou iniciar um equilíbrio, entre os incentivos de financiamento de pesquisas científicas (que interessam ao mercado, às indústrias e, portanto, explicitamente, ao capital) e projetos de extensão, que estão interessados em fomentar a produção do conhecimento entre universidade e comunidades em estado de vulnerabilidade social.

Segundo Lassance e Pedreira (2004: 66), tecnologias sociais reaplicáveis podem ser definidas como um “conjunto de técnicas e procedimentos, associados às formas de organização coletiva, que representam soluções para a inclusão social e melhoria da qualidade de vida.” No mesmo sentido, Boaventura de Souza Santos defende a extensão como fundamental:

numa sociedade cuja quantidade e qualidade de vida assenta em configurações cada vez mais complexas de saberes, a legitimidade da universidade só será cumprida quando as actividades, hoje ditas de extensão, se aprofundarem tanto que desapareçam enquanto tais e passem a ser parte integrante das actividades de investigação e de ensino. (SANTOS apud SOBRINHO, 2000: 50)

Trata-se aqui da luta contra-hegemônica utilizando os processos extensionistas como ações biopotentes, programas claros e inequívocos, de alianças que são possíveis porque baseiam-se em denominadores comuns, objetivos comuns, e que são mobilizadoras porque produzem uma ação positiva, isto é, porque conferem vantagens específicas a todos os que participam nelas em função do seu grau de participação (SANTOS, 2006: 198). Todos devem ganhar neste processo de troca universidade-comunidade-parceiros, que engloba a generosidade e a solidariedade humana, dentro de um movimento de tradução, invenção e formulação de tecnologia social. Desenvolvendo projetos de extensão, aliados à pesquisas que desloquem e aprimorem constantemente o fazer, é possível gerar, através do encontro de instituições, profissionais e pessoas de realidades sociais e culturais diversas, atos que se dão como biopotência, que resistem aos mecanismos do biopoder estabelecidos pelas relações perversas do capital contemporâneo. Propõem-se aqui ações de extensão como catalizadoras do poder da Multidão.

Para HARDT & NEGRI (2005) o conceito de Multidão é um outro nome pra esta biopotência, é uma alternativa viva que vem se constituindo dentro do Império. Como já foi dito, para estes autores a globalização tem duas faces, uma delas negativa na qual o “Império dissemina em caráter global sua rede de hierarquias e divisões que mantém a ordem através de novos mecanismos de controle e permanente conflito” e a outra que surge na:

criação de novos circuitos de cooperação e colaboração que se alargam pelas nações e os continentes, facultando uma quantidade infinita de encontros. Esta segunda face da globalização não quer dizer que todos no mundo se tornem iguais; o que ela proporciona é a possibilidade de que, mesmo nos mantendo diferentes, descubramos os pontos comuns que permitam que nos comuniquemos uns com os outros para que possamos agir conjuntamente. Também a multidão pode ser encarada como uma rede: uma rede aberta e em expansão na qual todas as diferenças podem ser expressas livre e igualitariamente, uma rede que proporciona os meios de convergencia para que possamos trabalhar e viver em comum. (HARDT & NEGRI, 2005: 12)

Acredita-se numa militância criativa, numa outra arte, num outro design, numa outra arquitetura que incorporem os saberes populares e periféricos, em processos de hibridação constante. É preciso compreender que a criação não é um dom especial que faz do designer, do artista ou do arquiteto pessoas em destaque na sociedade. Segundo Pelbart:

todos e qualquer um inventam, na densidade social da cidade, na conversa, nos costumes, no lazer – novos desejos e novas crenças, novas associações e novas formas de cooperação. (…) Todos e qualquer um, e não apenas os trabalhadores inseridos numa relação assalariada, detêm a força-invenção, cada cérebro-corpo é fonte de valor, cada parte da rede pode tornar-se vetor de valorização e de autovalorização. Assim, o que vem à tona com cada vez maior clareza é a biopotência do coletivo e a riqueza biopolítica da multidão. (PELBART, 2003: 139)

Pensando especificamente a prática (majoritária no Brasil e no mundo) que envolve o fazer estratégico e planejado do projeto de design ou de arquitetura não atinge o campo social e político necessário para a transformação de nossa realidade. Produz-se para o mercado e através do mercado, lança-se a segundo plano os projetos coletivos e colaborativos (e a arte não está fora deste círculo produtivo).

TECNOPOLÍTICA (high tech e low tech)


1) Fazer artesanal que engloba ações do projeto Artesanias do Comum (low tech)

2) Utilização dos mapas georreferenciados e plaraformas digitais para conectar redes e produzir…. (high tech) voltada a investigar a aplicação das tecnologias digitais de comunicação aos processos de produção do espaço urbano. Pretende-se produzir conhecimento e explorar tecnologias que promovam a interseção entre as redes digitais e as dinâmicas espaciais urbanas. Compreende-se que estas tecnologias conformam, atualmente, parte indissociável da experiência e da organização das metrópoles contemporâneas, promovendo a fusão da sua dimensão físico-territorial com a das redes digitais. Partindo de um contexto de urbanização crescente, que alcança até mesmo os recônditos rurais e selvagens, a expansão da tecnologia informacional e das condições de conectividade vem transformando a vivência destes territórios e se integrando às suas infraestruturas com intensidade sem precedentes. No entanto, não se observa uma incorporação correspondente desses mesmos recursos nos instrumentos de planejamento das cidades, sobretudo no que concerne ao fortalecimento do diálogo entre os seus habitantes e o poder público. Portanto, pretende-se investigar/produzir tecnologia social aplicada a políticas públicas urbanas nos mais diversos níveis: mobilidade, moradia, lazer, cultura, economia, agroecologia, etc. O TECNOPOLÍTICAS propõe o desenvolvimento colaborativo de tecnologia social aberta e reaplicável, baseando-se em iniciativas como o movimento open source (software livre) ou peer to peer (entre pares) que promovem o livre compartilhamento de conhecimento a partir de novos modelos de licenciamento de conteúdo. Acredita-se que a ampla disseminação da informação produzida pelo é premissa fundamental para sua contribuição efetiva às práticas de desenvolvimento urbano sustentável no país. Os movimentos de insurgência popular que ganharam visibilidade a partir de junho de 2013, no Brasil, articularam-se prioritariamente em torno de pautas urbanas sinalizando grande insatisfação com os mecanismos de participação e de representação disponíveis para abordar tais questões. A partir daí, começa a estruturação de uma rede de pesquisadores jovens, já imbuídos de pensar propostas para uma sociedade mais plural e democrática, que associa núcleos de pesquisa e extensão das universidades a coletivos artísticos ou midialivristas e a movimentos sociais diversos. Acredita-se que é urgente aliar o que há de mais avançado na investigação em tecnologia da informação à pesquisa urbana em sua dimensão multidisciplinar – reunindo arquitetos, urbanistas, geógrafos, economistas, sociólogos, designers, biólogos etc. – em busca da criação de dispositivos tecnopolíticos para a atuação nas metrópoles. Pretende-se, a partir dessa produção, auxiliar não somente as comunidades e os grupos organizados da sociedade civil, mas também o Estado, na constituição de plataformas colaborativas que dêem suporte a processos de participação mais eficazes. Iniciativas como o Marco Civil da internet demonstram que o Brasil está na vanguarda das políticas públicas para as redes digitais, revelando uma necessidade de se formar grupos de investigação de excelência na área das tecnopolíticas e de ampliar seu alcance para a esfera do planejamento urbano envolvendo universidades, Estado e sociedade. Além dos núcleos de pesquisa e dos programas de pós-graduação integrantes, pretende-se fortalecer essa rede através de parcerias com grupos internacionais, consolidando e ampliando uma rede já existente que vem produzindo conhecimento no âmbito das tecnopolíticas urbanas de maneira sistemática e transversal. Destaca-se a atuação conjunta dos membros desta proposta em iniciativas de pesquisa, de extensão, da participação em eventos científicos, e da organização de workshops em território nacional e internacional, além da compreensão de que é necessário fortalecer uma rede ibero- americana com ênfase na América Latina. Pretende-se utilizar metodologias diversas, com foco na copesquisa, para a concretização dos objetivos

O crescimento vertiginoso dos territórios urbanos – que devem abrigar mais de dois terços da população mundial até 2050 (ONU: 2014) – coloca a vida nas metrópoles no centro das questões pertinentes às sociedades contemporâneas. No Brasil, cerca de 160 milhões de pessoas vivem em áreas consideradas urbanas, o equivalente a quase 85% do total de habitantes (IBGE:2010). As circunstâncias sob as quais o adensamento das cidades brasileiras vêm ocorrendo resulta em graves problemas que permeiam os mais diversos níveis de sua experiência: habitação, mobilidade, meio ambiente e segurança, dentre outros. Paralelamente, vivencia-se a crescente expansão das tecnologias digitais de comunicação e sua consequente integração ao cotidiano das cidades, como elementos codependentes e indissociáveis da dimensão físico-territorial. A incorporação de recursos computacionais à produção espacial acontece de maneira ampla, e abrange desde softwares voltados prioritariamente ao objeto arquitetônico e urbanístico , às chamadas “cidades inteligentes” (smart cities), que exploram a informática em busca de maior eficiência energética, de sustentabilidade e de concorrência no mercado global. Sua infiltração gradativa no ambiente transforma as maneiras pelas quais o espaço é experimentado, modificado e representado, fazendo com que, nas grandes cidades, o universo físico e o informacional se associem tão profundamente que não faça mais sentido analisá-los como fenômenos distintos. Compreende-se que a contaminação da sociabilidade humana pelas redes digitais de comunicação se manifesta de maneira controversa – que envolve questões como privacidade, vigilância e o fortalecimento de um modelo de urbanização pautado pela conquista de investimentos no cenário global –, diretamente relacionada às transformações em curso nos modos de produção, de trabalho e de consumo. Contudo, se observam também oportunidades para a aplicação desses recursos em iniciativas de articulação cidadã, de cooperação intelectual e de livre disseminação do conhecimento, revelando o potencial democratizante do desenvolvimento tecnológico. O acesso à internet desempenha papel fundamental na consolidação desses fenômenos. Apesar do Brasil apresentar um quadro de acentuada desigualdade social, o acesso aos dipositivos de conexão vem se expandindo em todos os setores da sociedade, atingindo 105 milhões de usuários em 2013 (IBOPE: 2013), Os principais mecanismos de planejamento urbano vigentes no Brasil atual advogam em defesa da “participação popular” na elaboração de políticas públicas urbanas– prevista no Estatuto da Cidade como diretriz obrigatória à gestão democrática. Vários autores, no entanto, apontam para um desgaste da participação existente, demonstrando como ela raramente resulta em instâncias decisórias efetivas, atuando, ao contrário, de maneira heterônoma. Perpetua-se um modelo que valoriza excessivamente leis e normas em detrimento dos processos em colaboração com a sociedade (SOUZA: 2013). Silke Kapp denuncia a natureza consultiva dos dispositivos participativos em vigor, que configurariam mais uma etapa a ser cumprida no percurso burocrático de um plano do que um objetivo real. Segundo a autora, o termo participação “sugere outra instância, não composta pelos próprios ‘participantes’, que determina e coordena o processo” (KAPP: 2013, 467-468). Nesse sentido, identifica-se grande potencial nas iniciativas identificadas como urbanismo entre pares, arquitetura open source, cidade copyleft, ou wikitetura, dentre outros. Baseadas na cultura de software aberto e do conhecimento livre, essas propostas tomam emprestado o vocabulário próprio ao universo informacional para aplicá-lo à produção colaborativa do espaço urbano. Marta Battistella (2013) reflete sobre o contraste entre o potencial globalizante e aparentemente desterritorializante da revolução informacional, e o caráter predominantemente local dessas plataformas digitais sociais, que almejam incentivar encontros e intervenções urbanas. A autora argumenta que, apesar desse avanço tecnológico apontar uma aparente tendência ao distanciamento do universo físico e da convivência face a face, torna-se possível presenciar o surgimento de uma série de iniciativas conectadas em rede que propõem, justamente, o resgate da experiência local do espaço. Vários projetos vêm sendo desenvolvidos, atualmente, visando promover a interação in situ, intensificar o intercâmbio com o contexto urbano e ativar processos colaborativos. Especialmente com a consolidação da web 2.0 e das ferramentas de georreferenciamento – que permitem sobrepor, em tempo real, o universo digital ao físico, criando o que se identifica por realidade aumentada –, a internet vem fazendo emergir um laboratório de práticas colaborativas de experiência da cidade e da vida pública: "Hoje, a plataforma com maior influência para a criação de encontros ao vivo e para o aperfeiçoamento dos espaços públicos talvez seja, de maneira interessante e paradoxal, a web: um sistema horizontal com forte potencial para a rápida disseminação de ideias e de informações ao qual todos têm acesso e no qual podem atuar como indivíduos" (BATTISTELA: 2013). Se por um lado a formação de redes sociais é há muito utilizada como estratégia eficaz para promover transformações no espaço urbano e para viabilizar iniciativas de mobilização cidadã – antecedendo a comunição digital –, por outro, a ampliação sem precedentes das condições de conectividade da internet lança a um novo patamar as possibilidades de articular processos colaborativos de produção do espaço. Um aspecto fundamental dessas ferramentas é sua capacidade de reunir atores de diferentes origens, escalas e naturezas: cidadãos isolados, poder público, organizações não governamentais, grupos da sociedade civil organizada e empresas privadas, dentre outros. Em geral, quanto maior a complexidade e a diversidade das redes formadas, maior seu alcance, sua capacidade de atuação e sua resiliência, como propõe o conceito de redes multiescalares de Rainier Hehl (in ROSA: 2011). A possibilidade de apropriação e de adaptação a múltiplos contextos é também relevante, consolidando iniciativas que possam ser adequadas e reproduzidas em novas localidades. O uso crescente de telefones celulares conectados à internet proporciona às redes de comunicação um potencial de mobilidade até então inédito, expandindo suas oportunidades de aplicação na esfera territorial:“a internet móvel e o georreferenciamento, juntos, permitem algo antes impensável: a associação, em tempo real, da identidade digital com um espaço físico particular. Isso significa dar a essa identidade que era, até o momento, ubíqua, uma dimensão espacial” (DI SIENA: 2012). O Brasil vem demonstrando interesse em estar na vanguarda das políticas públicas para as redes digitais, a partir de ações como a aprovação do Marco Civil da internet e a criação do portal Participa.Br (http://www.participa.br/). Acredita-se que o Instituto proposto tenha uma grande contribuição a oferecer, uma vez que busca a aliança entre o que há de mais avançado na investigação em tecnologia da informação e da comunicação à pesquisa urbanística em sua dimensão multidisciplinar – reunindo arquitetos, urbanistas, geógrafos, economistas, sociólogos, designers, biólogos etc. Vislumbra-se, nessa articulação, um horizonte fértil para formar parcerias com o setor público, auxiliando na produção de diretrizes e de mecanismos tecnopolíticos para as questões urbanas; atuar junto à sociedade civil desenvolvendo tecnologia social que conecte seus diversos atores; produzir tecnologia digital aplicável à infraestrutura física das cidades. Nesse sentido, propõe-se agora fazer uma breve descrição de recursos e de ferramentas que se pretende explorar, assim como apresentar referências que vêm sendo testadas com sucesso em diferentes contextos. O desenvolvimento cartográfico aliado a instrumentos colaborativos constitui uma importante metodologia a se explorar. A consolidação das técnicas de georreferenciamento, dentro do que é identificado como Geodesign, amplia as condições de compreensão da realidade territorial e pode se vincular a interfaces interativas para expandir as possibilidades de participação cidadã. Mapas produzidos coletivamente fornecem informações úteis, constantemente atualizadas, sobre o contexto urbano podendo ter mecanismos que conectam os usuários entre si, ou que os conectam à administração pública, promovendo o estreitamento das pontes entre instituições e cidadãos e permitindo maior transparência. Exemplos: Whatif?Cities <http:// whatif.es/>; Fix My Street <https://www.fixmystreet.com/>; Mappe <http://mapeo.la-mesa.org/ iniciativas/>; Mapa da Cultura de Fortaleza <http://mapeamentofortaleza.org.br/>; Green Map <http://www.greenmap.org/>; Mapeando o Comum <http://mappingthecommons.net/>; dentre outros. A busca por melhores condições de entendimento da realidade territorial pode ser expandida para a exploração em rede das ferramentas de desenho computadorizado (CAD - computer aided design) criando modelos digitais de lugares ou de situações urbanas específicas que possam ser submetidos a teste e modificados por seus usuários, a partir de parâmetros preestabelecidos. Interfaces intuitivas fazem com que ferramentas de projeto – cujo domínio costuma se restringir a profissionais especializados – tornem-se mais abertas ao público em geral, ampliando suas possibilidades de atuação no exercício da produção do espaço. Compreende-se que a representação arquitetônica tradicional, sobretudo o desenho técnico configura geralmente uma linguagem inacessível à maior parte da população. A superação desse limite torna-se fundamental para constituir mecanismos de decisão coletiva voltados à transformação da cidade. Possibilita-se a visualização de múltiplos cenários, a comparação dos impactos de diferentes propostas em ambientes específicos e a construção conjunta de novas soluções, auxiliando as práticas de colaboração cidadã a ultrapassarem o modelo de participação eletiva que atualmente predomina. Referências: streetmix <http://streetmix.net/>; city kit <http://www.world-architects.com/en/pages/hybrid-space-lab>; etc. Propõe-se criar ferramentas que viabilizem o compartilhamento de bens e de recursos urbanos, o qual acontece quando se criam estruturas em rede que possibilitem o uso conjunto de serviços ou de objetos diversos. Trata-se de infraestruturas e equipamentos, mantidos pela administração pública ou pelo setor privado, disponibilizados ao público para o uso compartilhado, como carros (car sharing), bicicletas (bikesharing) e até mesmo espaço de trabalho (co-working). A tendência ao compartilhamento sinaliza uma transformação dos padrões tradicionais de consumo, apontando para uma lógica a partir da qual ter acesso a serviços e a equipamentos específicos se torna mais importante do que possuí-los. As práticas desenvolvidas nessa categoria se conectam ao incentivo da economia solidária e à busca por um desenvolvimento urbano mais sustentável. Exemplos: car2go <https://www.car2go.com>; bikebh <http://goo.gl/dwS9Gj>; fluid meeting spaces <http://www.fluidmeetingspaces.com/>; couchsurfing <https://www.couchsurfing.org/>; gnammo <http://gnammo.com/>; etc. Pretende-se desenvolver pesquisa laboratorial para a produção de infraestrutura leve, entendida como a incorporação de camadas informacionais ao ambiente físico-construído, aos objetos e aos ambientes que compõem o espaço urbano. Por meio de sensores, controladores e atuadores conectados em rede, constituem-se novos níveis da organização espacial contemporânea, fundamentais ao funcionamento das metrópoles atuais. Essa fusão da tecnologia de comunicação com o território pode ser identificada também como computação ubíqua ou como realidade aumentada, sugerindo, como o próprio nome indica, recursos que atuam em conjunto à, mas não visando substituir, a dimensão material da cidade. Instrumentos semelhantes são amplamente explorados pelas propostas de smart cities, buscando maior eficiência para os serviços urbanos e para a sua administração. Contudo, a tecnologia das smart cities é quase que exclusivamente produzida pela iniciativa privada, vinculando o seu desenvolvimento prioritariamente a interesses comerciais. Identifica-se um grande potencial de contribuição à sociedade no desenvolvimento de tecnologia desse tipo por um Instituto de natureza acadêmica e científica, que tenha como premissas o diálogo constante com o setor público e com os cidadãos, e que atue sob a lógica de produção de conhecimento livre. Ainda sob o princípio da livre produção de conhecimento, se tem como objetivo ações que se baseiem no livre intercâmbio de informação voltada à transformação espacial, tal como: métodos construtivos, projetos arquitetônicos, soluções para intervenções em situações de emergência, etc. Plataformas desse tipo ampliam e democratizam o acesso a uma produção em geral restrita a setores específicos da sociedade, oferecendo mecanismos de construção e de gestão do espaço a grupos sociais variados. A inteligência coletiva é estimulada a partir da criação conjunta, multiplicando o conhecimento sobre os assuntos abordados e fazendo surgir novas táticas e instrumentos de ação e de autogestão. Exemplos: wikihouses <http:// www.wikihouse.cc/guide>; open architecture network <http://openarchitecturenetwork.org/>; paper houses <http://www.paperhouses.co/>; etc. Pretende-se investigar também os processos contemporâneos de ressignificação de espaços públicos, ou seja, iniciativas articuladas em rede que buscam dar novos significados ao território urbano a partir de intervenções temporárias, eventos organizados de forma colaborativa ou práticas que exploram a experiência sensível do espaço. Essas ações costumam se basear no pensamento situacionista, que propunha a apropriação da cidade a partir da criação de situações: táticas lúdicas e performativas de ativação dos espaços, como as derivas propostas por Guy Debord. Com um olhar crítico a políticas que dão origem a lugares cada vez mais padronizados e regulados, essas práticas desafiam os conceitos consolidados de espaço público predominantes nas metrópoles contemporâneas. Como exemplo destaca-se o parking day <http://parkingday.org>, iniciativa que inspirou os parklets agora contemplados pelo Plano Diretor Estratégico da cidade de São Paulo; aplicativos como o Serendipitor <http://serendipitor.net/site/>; e jogos urbanos como o geocaching <https:// www.geocaching.com/>; além de inúmeras iniciativas artísticas e culturais organizadas em rede atuantes na transformação dos espaços das cidades.



Fazer artesanal enquanto resistência e produçãoo de processos constituintes (artesanias do comum) Abre-se aqui uma defesa tanto das ações de extensão, quanto do processo de criação e produção artesanal enquanto formas de resistência à produção mecanizada, alienada e em série industrial. Defende-se o aprender fazendo, aprender fazendo com o outro, coletivamente e colaborativamente. Defende-se uma arte, um design, uma arquitetura que se elabore sem assinatura, sem a forma em evidência, sem o jogo do poder que envolve a sua autoria. Incentiva-se o processo como foco do trabalho, conhecimento na troca desierarquizada, fazer arte, design e arquitetura como se faz política, fazer política e criar espaços livres.

Quando se trata de desenvolvimento de tecnologias sociais que potencializem a relação desierarquizada entre as ongs e universidades e as pessoas envolvidas nos projetos, que moram no território presente nas práticas extensionistas, surge uma grande questão que envolve a criação de objetos, metodologias e ações cotidianas que precisam surgir no encontro entre o fazer-pensar erudito da academia e o fazer-pensar cotidiano experimental das localidades. E é aí que, para a arte, a arquitetura e o design, adquirem potência para ativar formas de fazer que não sejam apenas estratégicas e planejadas, mas que incorporem o fazer tático, próprio de quem não possuí condições financeiras para consumir no mercado. Portanto, não somente os processos de criação colaborativas precisam ser a mola propulsora das ações, destituindo do artista, do arquiteto e do designer a sua tão demandada e necessária produção autoral.

Segundo Richard Sennet, “fazer é pensar (...) o artífice representa uma condição humana especial: a do engajamento.” (SENNET, 2008: 30) Entende-se que, na Universidade, o lugar mais apropriado para “pensar fazendo” é na extensão. Fazer pensando e vice-versa elege ao primeiro plano das ações de transformação e invenção a tática, ao invés da estratégia. Se, para CERTEAU (2003), a estratégia postula um lugar como próprio e constrói uma base para gestão de suas relações com a exterioridade, a tática só tem por lugar o do outro. Ela insinua, fragmentariamente, sem apreendê-lo por inteiro, sem poder retê-lo à distância. Não dispõe de base para capitalizar os seus proveitos. Pelo fato de seu não-lugar, a tática depende do tempo, vigília à espera da oportunidade. Na tática, a arte de dar o golpe é o senso da ocasião. A tática é a arte do fraco e este pode tirar partido de forças que lhe são estranhas. Espera de momentos oportunos onde combina elementos heterogêneos.

Para CERTEAU (2003), há no homem comum e anônimo um homem extremamente inventivo, considerado herói comum, caminhante, inumerável que se difere dos nomes próprios, e produz num ambiente de cultura ordinária onde a ordem é exercida por uma arte de fazer. Há uma economia do dom, uma estética de lances, um estilo de invenções técnicas, uma ética da tenacidade. O autor parte do interesse, não pelos produtos culturais oferecidos no mercado dos bens, mas pelas operações de desvio dos produtos por uma prática inovadora dos seus usuários. Estas seriam maneiras ou modos de fazer diferentes que marcam socialmente o desvio operado em alguns produtos por uma prática, criações anônimas e perecíveis que surgem instantaneamente e não se capitalizam. Há nestas práticas uma inversão de perspectiva que desloca a atenção do consumo supostamente passivo dos produtos para a criação anônima que nasce da prática do desvio no uso destes e via de regra, a produção artesanal, não autoral, baseadas numa prática auto-construtiva, regem o movimento da invenção.

Habitar, circular, falar, ler, ir às compras ou cozinhar, todas essas atividades parecem corresponder às características das astúcias e das surpresas táticas: gestos hábeis do ‘fraco’ na ordem estabelecida pelo ‘forte’, arte de dar golpes no campo do outro, astúcia de caçadores, mobilidades nas manobras, operações polimórficas, achados alegres, poéticos e bélicos. (CERTEAU, 2003: 13)

O que interessa a este autor são as operações e os usos individuais, suas ligações e as trajetórias variáveis dos praticantes que manipulam materiais e produtos a partir da bricolagem e da inventividade artesanal e local. Seguindo a trilha deixada por Michel Foucault, CERTEAU vê nos dispositivos inventados uma vampirização das instituições que reorganizam clandestinamente o funcionamento do poder, ou seja, uma atuação microfísica do poder. O autor detecta, já nos anos 60, a importância de pesquisas destes outros modos de utilizar produtos consumidos de forma subversiva e curto-circuitam as encenações institucionais.

A uma produção racionalizada, expansionista além de centralizada, barulhenta e espetacular, corresponde outra produção qualificada de ‘consumo’: esta é austuciosa, é dispersa, mas ao mesmo tempo ela se insinua ubiquamente, silenciosa e quase invisível, pois não se faz notar com produtos impostos por uma ordem econômica dominante. (CERTEAU, 2003: 39)

Acreditamos que qualquer alternativa à concepção de desenvolvimento dominante só pode acontecer a partir da ação do cidadão, da mudança de seu habitus, no espaço da vida cotidiana. É necessário entender que o trabalho envolvendo realidades sociais díspares deve estabelecer um ambiente de troca de experiências de vida e de conhecimento. A questão principal é a transformação dos saberes e de todos os indivíduos envolvidos no processo em direção a sociedades mais justa, menos desigual via uma atuação mais política e engajada por parte da universidade (professores e estudantes) e dos profissionais tão seduzidos pelos projetos autorais (arquitetos, artistas e designers). Aprender com o outro numa troca desierarquizada e desenvolver tecnologia social que possa ser reaplicada como construção de uma máquina de guerra contra o Império é nosso principal objetivo. Construir uma pequena multidão em cada projeto e programa que nos envolvemos. Por fim, reafirma-se aqui que a extensão universitária possibilita a realização de ações que alimentam o pensamento e assim num ciclo contínuo, surgem teorias que aprimoram e reinventam as práticas. A extensão não deve ser pensada como simplesmente transferência de conhecimento, ela deve construir conhecimento coletivamente num ambiente de troca constante, incluindo o ensino e a pesquisa. Entende-se que a pesquisa acadêmica precisa funcionar, servir pra alguma coisa que realmente transforme a vida das pessoas ou melhore as condições de habitabilidade no mundo, e, portanto sua relação com a extensão é fundamental: “É isso, uma teoria é exatamente como uma caixa de ferramentas. Nada tem a ver com o significante. É preciso que sirva, é preciso que funcione.” (DELEUZE, 2006: 267)


[1] XXVIII Encontro Nacional, 2010. [2] Plano Nacional de Extensão Universitária Edição Atualizada Brasil 2000 / 2001. Fórum de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras e SESu / MEC: 03.






� Metodologia e Avaliaçao (pra cada um dos projetos) � Relação Ensino, Pesquisa e Extensão (falar de todas as disciplinas que damos e como elas se relacionam com o que fazemos. isto vale até pra disciplina que julinha tá dando no direito e também pra todos nóss… vamos fazer esta lista gigante + falar que como todos realizamos copesquisa, os projetos de mestrado e doutorado também se vinculam ao programa… falar dos tccs da paula e da fernanda e de como eles se desdobram em ações variadas)

As disciplinas associadas ao IND.LAB são: UNI009 - Cartografias Emergentes, que é aberta para toda a universidade, a disciplina ARQ 033 - Projeto Integrado do Design que utilizou de metodologias criadas a partir da extensão para mapear a cidade e identificar problemas e potencialidades para que os alunos possam dar soluções coletivas e a disciplina URB053 - Projeto Paisagístico que utiliza a metodologia baseada em Mediawiki criada na extensão, para alimentar idéias e políticas que retrocede da emancipação do urbano da natureza, criando bases informacionais para alimentar as conexões da Rede Verde, dos movimentos sociais e as comunidades da agricultura urbana.

As pesquisas e extensões associadas ao IND.LAB são: CARTOGRAFIAS EMERGENTES: A DISTRIBUIÇÃO TERRITORIAL DA PRODUÇÃO CULTURAL EM BELO HORIZONTE. Coordenação: Professora Dra. Natacha Rena. A pesquisa - Cnpq/ Minc - tem como objeto o estudo sistematizado da distribuição territorial das iniciativas culturais referentes aos setores prioritários da Secretaria da Economia Criativa em Belo Horizonte. Pretende-se produzir cartografias críticas, georreferenciadas e colaborativas que, por meio de processos acadêmicos e participativos, localizem, no território da cidade, as atividades culturais existentes e os tipos de financiamento utilizados para a sua realização. É objetivo gerar um panorama territorial complexo, de caráter científico, que possa constituir base de dados para análises sobre a relação entre a distribuição das iniciativas culturais no espaço urbano. URBANISMO COMPARTILHADO E DISTRIBUÍDO: INFRAESTRUTURA URBANA LEVE Coordenador: Professor Dr. Marcelo Maia. Urbanismo Compartilhado e Distribuído é uma pesquisa que converge tecnologias de conexão e cultura cotidiana, identificando instrumentos de agenciamento espacial. Posto este contexto tecnológico e cultural, sugere-se soluções práticas de compartilhamento de recursos urbanos, verificando com que grau ele é possível, tanto do ponto de vista técnico, quanto do cultural. Busca também verificar o quanto este urbanismo compartilhado e distribuído pode contribuir com a redução do consumo em busca de um equilíbrio ambiental urbano. �

Avaliação � Referências Bibliográficas





�BAVA, … Tecnologia social e desenvolvimento local http://www.oei.es/salactsi/Teconologiasocial.pdf


Pontos importantes/destaques da chamada:

Deverá ser demonstrada a vinculação das atividades de extensão com o Projeto Pedagógico do Curso – PPC e com o Plano de Desenvolvimento da Instituição – PDI. Caso não seja comprovada esta vinculação, a proposta obterá, no máximo, 90% da pontuação.

É recomendável a aproximação com instituições parceiras visando à captação de recursos, à capacitação de pessoal em articulação com projetos desenvolvidos pela universidade e pela sociedade com vistas à futura autonomia das ações.

Cumprimento ao preceito de indissociabilidade entre ensino, extensão e pesquisa,caracterizada pela integração da ação desenvolvida à formação técnica e cidadã do estudante e pela produção e difusão de novos conhecimentos e novas metodologias, de modo a configurar a natureza extensionista da proposta.

Deverá ser demonstrada a vinculação das atividades de extensão com o Projeto Pedagógico do Curso – PPC e com o Plano de Desenvolvimento da Instituição – PDI; As propostas oriundas de instituições que comprovadamente tiverem as atividades de extensão previstas no PPC, com créditos e avaliação previstos no currículo, receberão pontuação extra, conforme estabelecido nos itens 9.6 e 9.8 – quesito 4.


Impacto social, pela ação de superação dos problemas sociais, contribuição à inclusão de grupos sociais, ao desenvolvimento de meios e processos de produção, inovação e transferência de conhecimento e à ampliação de oportunidades educacionais, facilitando o acesso ao processo de formação e de qualificação;

Relação multilateral com os outros setores da sociedade, pela interação do conhecimento e experiência acumulados na academia com o saber popular e pela articulação com organizações de outros setores da sociedade, com vistas ao desenvolvimento de sistemas de parcerias interinstitucionais;


Contribuição na formulação, implementação e acompanhamento das políticas públicas prioritárias ao desenvolvimento regional e nacional.


Atendimento à comunidade ou setor, com vistas à futura autonomia das ações.

Tecnologias Sociais: a) Apoio a projetos e atividades de pesquisa e extensão tecnológica voltados a inclusão social e produtiva, com foco no desenvolvimento de tecnologia social e valorização dos saberes locais e tradicionais; b) Apoio a experiências e metodologias de sistematização das práticas e saberes locais associados à agrobiodiversidade, envolvendo seu manejo e proteção, bem como a troca de saberes tradicionais e científicos, e mecanismos apropriados de extensão tecnológica e adaptação sócio técnica.


-- Sobre o INDlab - declaração das bases conceituais do laboratório: Nomadismo Comum Tecnopolítica Autonomia (democratização) Sobre o INDlab - metodologia das ações; Copesquisa militante Cartografia crítica Processos abertos/livres


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