Multitude: quando a arte se soma à multidão

De Indisciplinar
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O grupo de pesquisa Indisciplinar convida para a inauguração do evento "MULTITUDE: quando a arte se soma à multidão" no Sesc Pompeia no próximo dia 29 de junho.

Pesquisadores do Indisciplinar participam de diversas ações envolvendo confecção de textos, curadoria, workshops, participação em conferências e debates na arena.

“O conceito de multidão tem sido objeto de pesquisa por parte de Lucas Bambozzi que vem buscando projetos em afinidade com o tema desde a realização de sua instalação Multidão (2006) no Sesc Pinheiros. Versões distintas foram criadas para o Laboratório Arte Alameda na Cidade do México (2011), Favela Maré no Rio de Janeiro (2013) e Virada Cultural em São Paulo (2013) sempre considerando a pertinência da ações representadas com relação ao contexto local.

A partir das pesquisas desenvolvidas por Andrea Caruso Saturnino no campo das artes cênicas, o projeto Multitude foi alinhado em conexão com trabalhos de teatro e performance que se apresentam igualmente como potências da multidão. O eixo central da escritura cênica não estando mais calcado no protagonismo do texto dramático, abre espaços para a expressão de temas ligados ao cotidiano de múltiplas minorias e para o redimensionamento do lugar da representação.

A realização do projeto junto ao Sesc permitiu novas possibilidades de inserção de obras e viabilização de formas de expansão curatorial da exposição. Como forma de estender as referências iniciais a partir de áreas distintas, ao longo do desenvolvimento do projeto foi formada uma comissão curatorial que, além dos idealizadores, envolve os pesquisadores, artistas e pensadores Lucio Agra, Natacha Rena, Peter Pál Pelbart e Rodrigo Araújo.”

O site do projeto está no ar contendo diversos links – Arquivo comum, Mapeamentos, Glossário e #multitudepompeia – que estão em constante expansão e são resultado direto da colaboração da multidão ativa do projeto.

Mais detalhes sobre o projeto:

Multitude é um acontecimento de arte contemporânea, tendo como ponto de confluência o embate com o termo multidão desenvolvido por Antonio Negri e Michael Hardt desde a publicação de “O Império“ (2000) e que se desdobra em uma série de livros e discussões que renovam o entendimento dos movimentos sociais na atualidade.

O evento reúne artistas e pensadores nacionais e internacionais em um projeto que contempla espetáculos, encontros,workshops, performances e exposição ao longo de três meses. A curadoria geral é da pesquisadora em artes cênicas Andrea Caruso Saturnino e do artista e pesquisador em novos meios Lucas Bambozzi.

Heterogênea, dispersa, complexa e multidirecional, a multidão vem gerando debate intenso nos campos da sociologia e ciência política, sendo tema também de uma diversidade de obras artísticas nos últimos anos. Protestos em praças públicas, movimentos ocuppy em grandes centros e as manifestações populares que, desde junho de 2013 proliferaram pelo Brasil, estão se tornando foco de abordagem de trabalhos que incorporam essas questões em seus processos de criação.

O projeto enfatiza o conceito negriano de multidão, abordando formas de resistência ao poder instituído por parte dos mais diversos tipos de minorias – sociais, sexuais, raciais. Pensar a multidão é pensar a produção do comum, observando o comum como um conjunto de singularidades, identidades únicas que se afetam mutuamente, em um processo que reúne potências, mas também dissensos.

Montada na área de convivência do Sesc Pompeia, a exposição de arte é o centro do projeto Multitude, que abre com uma mostra de 20 obras em vários suportes e meios. Vídeos, filmes, fotografias, instalações, pinturas, performances e sistemas interativos que se referem direta ou indiretamente à multidão em várias localidades do mundo, mostram questões em comum, como apontam distinções culturais e singularidades que resistem a um mundo globalizado.

Reunimos artistas e pesquisadores que abordam a multidão de modo analogamente singular, propondo um campo de pensamento artístico que reverbera as tensões percebidas na sociedade, em diálogo com reflexões políticas, sociais e filosóficas. O conjunto de iniciativas previsto a partir do tema permite a formação de uma rede que se expande com a participação de um público amplo, reunindo artivistas e ativistas em espaços que se ampliam e se cruzam entre ambientes físicos eon-line.

Em um modelo experimental de curadoria, após a abertura, uma equipe curatorial de plantão recebe artistas dos mais diversos circuitos que tenham trabalhos que se encaixem no conceito de multidão. A comissão seleciona novos trabalhos que são incorporados progressivamente ao conjunto inicial de obras. Essa curadoria funciona no formato de um atendimento público, buscando trazer trabalhos e propostas em consonância com o tema e que contribuam para o conjunto da mostra.

A curadoria de plantão é assim um mecanismo para viabilizar um diálogo simplificado e direto com artistas que queiram apresentar seus trabalhos, em um processo que pode fazer com que artistas que não conhecemos se aproximem.

Mesmo assim, qualquer seleção de trabalhos que trate deste tema não pode ter a pretensão de se bastar. Temos consciência de que sempre haverá muito mais – a ser descoberto, a ser visto, porvir.

Multitude envolve também apresentações cênicas e multimídia, sejam as pré-selecionadas pela comissão organizadora ou parte do processo de expansão da curadoria de plantão. Em proximidade com as obras da exposição, as performances podem ser realizadas em uma arena em meio ao espaço expositivo, ou mesmo entre os trabalhos expostos.

Um ciclo de encontros e conferências acontece entre a última semana de maio e a primeira semana de junho. Convidados de diferentes áreas, como artes, filosofia, ciências políticas e arquitetura, participam do projeto estimulando debates e promovendo ecos dos temas discutidos.

Com uma exposição a ser expandida, uma arena a ser ocupada, espaço no site para participações e comentários imediatos, propostas de encontros de vários tipos e dinâmicas, o projeto se caracteriza por uma maleabilidade que reflete o contexto atual, em busca por novos modelos ou sensibilidades para se entender e discutir o mundo que nos cerca.

Como bem afirma Negri, lá onde esbarramos nos limites, onde não enxergamos mais alternativas de modo prático, é justamente onde entra a criatividade, a arte – que não tem como não ser revolucionária. Um ano após as manifestações de junho de 2013, em pleno período de questionamentos em torno da representatividade de nossos candidatos ou sobre as prioridades que mobilizam a Copa do Mundo, em face aos mecanismos de opressão civil cada vez mais reforçados, parece-nos pertinente exercitar nossa percepção, arejar as ideias, para seguirmos sempre atentos. Caberia dizer que Multitude sugere um “chamamento” para novas formas de entendimento de um contexto histórico.

Sobre o título da exposição:

A raiz da palavra, tendo origem latina, se faz compreender globalmente em suas várias utilizações em inglês [multitude], espanhol [multitud], francês [multitudes] ou português [multidão]. Trata-se de uma base comum, da qual partimos para aferir as riquezas advindas da diferença, que se expressa não apenas subjetivamente ou semanticamente, e que se reflete também através dos meios utilizados e do repertório cultural de cada um dos participantes.” (texto de apresentação do projeto retirado do site)

#multitudepompeia
@multitude2014