Regras de colaboração

De Indisciplinar
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Competência

A colaboração se dá quando os participantes de um projeto ou de uma ação coletiva compõem uma rede cujas inter-relações dependem de que cada um tenha alguma competência em relação ao trabalho que se vai desenvolver. Não se espera que a competência de todos seja a mesma nas mesmas áreas; ao contrário. É importante que as competências se complementem e que cada participante se enriqueça a partir da competência do outro. Cada um deve trazer uma contribuição significativa para a relação. E entendemos aqui competência nas mais diversas áreas e níveis – quer no aspecto formal, quer no aspecto de conteúdo.

Objetivos comuns

Para a colaboração se concretizar outro fator indispensável é que os participantes da ação tenham objetivos comuns. Na verdade, cada participante tem seus objetivos de longo prazo, próprios aos seus projetos individuais, mas há aqueles com os quais os objetivos do projeto coletivo se interrelacionam. Esta é uma questão de fundamental importância, pois se os objetivos são diversos, pode não se chegar a nenhuma construção significativa.

Interdependência

Para que a colaboração ocorra de fato, a dependência não pode ser unilateral. Todos os participantes precisam de todos, já que cada um traz valores, competências e habilidades próprios que contribuirão para o funcionamento eficaz do todo. Em um projeto colaborativo , cada parte do trabalho pode ser desenvolvida por um ou mais indivíduos, em consonância com o todo. De modo que, à medida que o projeto for sendo desenvolvido, as partes vão se integrando para a consecução final do mesmo. A interdependência desenvolve um sentido de responsabilidade do indivíduo em relação ao coletivo em que ele está inserido pois falhando uma parte, o todo sofrerá seus reflexos. Não é uma justaposição de resultados, mas uma conjunção constante de resultados que desencadeiam novas procuras e , muitas vezes, implicam em reorientações e relocações. Naturalmente, este fator não só supõe, mas reforça o espírito de responsabilidade individual e do grupo.

Limites de responsabilidade bem definidos

Sem funcionar como camisa de força, os projetos colaborativos precisam contar com a definição de papeis e das responsabilidades individuais. Se há uma interdependência entre as fases, entre as partes, entre as diversas funções para a realização do projeto, é fundamental que cada um saiba exatamente qual é o seu papel e qual é a sua responsabilidade; o que esses limites permitem e quais são os eventuais benefícios ou prejuízos inerentes a essas funções e responsabilidades. O conhecimento e a consciência de seu papel e da sua responsabilidade é essencial para a realização colaborativa. Mas só a responsabilidade individual não é suficiente. Faz-se necessária a integridade individual que se projetará na integridade do grupo.

Informação

Os participantes devem manter um fluxo simétrico de ação e informação constante, de modo que não haja apenas a contribuição com informação de apenas um dos participantes. A informação precisa ser discutida, analisada, processada pelo grupo que a transformara em conhecimento enriquecedor da ação colaborativa que o grupo estiver realizando. E informação, aqui, se refere não só aos dados técnicos, como tudo o que seja pertinente ao trabalho conjunto, até mesmo o conhecimento de conflitos. A antecipação de zonas de divergências, de obstáculos a serem contornados ou vencidos, de dificuldades imprevisíveis é informação fundamental para o planejamento e replanejamento de ações colaborativas.

Divergência e argumentação

A unanimidade não é uma característica positiva em uma ação colaborativa. Na verdade, da divergência e da argumentação, de uma dialética consciente podem nascer produtos ricos e significativos para cada um dos participantes. O fundamental é que a divergência seja considerada, que gere investigação, pesquisa, argumentação e contra-argumentação consubstanciada. Desse processo podem resultar novas ações ou produtos mais consistentes com os objetivos a serem alcançados. Dessa forma não haverá desintegração do grupo de participantes colaborativos.

Integração

Uma vez que os parceiros constróem amplas conexões entre si e desenvolvem tanto formas de trabalho interligadas como compartilhamento de informações e de seus conhecimentos específicos, tornam-se professores e alunos uns dos outros. Assim, toda a ação colaborativa, todo o projeto se desenvolve de forma integrada. Isso é fundamental para o bom andamento do projeto, pois a ausência inesperada, de qualquer um de seus integrantes pode, momentaneamente, ser minimizada com a contribuição dos demais por estarem integrados e, não só o projeto continua sendo realizado, como ao retornar, esse integrante será informado do andamento do projeto durante a sua ausência, podendo reintegrar-se sem problemas com sua competência e especificidade de participação colaborativa.

Espaço de criação

Scrhager (1990) enfatiza a necessidade de se ter um espaço para a colaboração. Um espaço que servirá "como modelo e como mapa... O espaço compartilhado serve como um teste de autenticidade para o ato da colaboração". Por exemplo, se a colaboração é a escritura de um livro, então o planejamento do livro é o espaço compartilhado, é ao mesmo tempo a instância que certificará que as competências de cada um somarão um todo muito mais significativo. É um espaço de manipulação da ambigüidade, decriação , de experimentação, de interação e de integração dos participantes da ação colaborativa. Um espaço em que cada um poderá trabalhar e criar com diferentes representações.

Diferentes formas de representação. Lingüística, visual, matemática, digital, as mais diversas representações são necessárias no desenvolvimento de uma ação colaborativa, em um projeto, em uma parceria. No espaço de criação é muito importante que as pessoas joguem com vários tipos de representações. Muitas vezes, ao tentarmos solucionar um problema ou desenvolver uma tarefa a partir de uma representação verbal não chegamos a um bom resultado, mas ao usarmos um outro tipo de representação a solução aparece como de imediato.

Assistência externa

Assim como as competências individuais não se substituem e não são, isoladas, suficientes para que alcancemos alguns objetivos comuns, muitas vezes, faz-se necessária a participação de especialistas para a resolução de determinados entraves ou questões intrincadas. SCHRAGE (1995) enfatiza que colaboradores bem sucedidos constantemente solicitam informações e ajuda externa aos participantes do projeto. Ao tentarmos resolver todas as questões e dificuldades internas na tentativa de sermos auto-suficiente, podemos desviar esforços de áreas cuja atuação de cada um de nós é de fato efetiva e eficaz.” (BUENO, 2000.)

"Uma pessoa que parte da analise verbal para uma visualização espacial durante uma tarefa, muda a tarefa psicologicamente ... e se uma pessoa aprende a mudar de estratégia em uma tarefa pode não só começar uma nova tarefa com uma nova estratégia, mas também com a idéia de transferência de que a mudança muitas vezes ajuda. "(BUENO, 2000.)


"Dessa forma, a cada curso, formam-se coletivos que, colaborando mutuamente, constróem novos conhecimentos, agregando valor ao conhecimento já existente, tramam novas teias de relacionamentos e relações entre diferentes assuntos, densificando e aprofundando ainda mais a inteligência coletiva." (BUENO, 2000)

"À medida que o professor participa de reuniões pedagógicas de forma colaborativa, o valor que ele agrega na construção com seus alunos pode enredar e compor novas teias com os valores agregados por outros professores. Se essas contribuições são registradas em artigos de livros ou periódicos, comunicadas em encontros, seminários, congressos, novos valores e outras redes de conexões estarão sendo construídos e comunidades de conhecimento ainda maiores estarão sendo enriquecidas. À medida que as tecnologias de comunicação permitem uma interação com um número maior de pessoas e com maior velocidade, os valores agregados podem ser maiores, podem ainda provocar uma qualidade de produção mais cuidada, uma reflexão compartilhada com resultados mais efetivos. Importante para que esse encadeamento, esse enredamento aconteça é que se estabeleçam de fato colaborações mútuas entre professor e alunos e entre alunos e alunos."

(BUENO , Iolanda . Colaboração, Trabalho em equipe e as Tecnologias de Comunicação: Relações de Proximidade  em Cursos de Pós-Graduação. Tese de Doutorado - Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, 2000.