Método da Copesquisa Cartográfica

De Indisciplinar
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Associamos alguns métodos militantes como a copesquisa e a cartografia.

A copesquisa não separa teoria da prática e agencia atravessamentos de múltiplas ordens. Não dissocia sujeito de objeto e se faz de maneira aberta a mudanças de perspectiva, possuindo uma tendência política na qual a produção de conhecimento e o ativismo se sobrepõem. Pretende-se, com este método (ou anti-método, investigar a composição política dos diversos sujeitos políticos da contemporaneidade como movimentos sociais que atuam em redes de luta em defesa dos commons urbanos.

A cartografia também faz parte de nossos métodos de atuação. É interessante observar que a origem da proposta de utilização da cartografia enquanto método de copesquisa, passa pelo conceito de cartografia em Deleuze e Guattari (1995) que é um dos princípios do conceito de rizoma, em oposição à decalcomania. Nos processos cartográficos predominam insurgências em planos de imanência, potências em fluxo que se encontram, conectando mundos e modos de vida. Entende-se aqui a cartografia não somente como método da geografia clássica territorial, mas como tática micropolítica cotidiana composta pela ação política; um fazer insurgente, dinâmico, sempre processual e criativo. O rizoma é o processo de conhecimento da realidade sob forma não arborescente ⎯ busca das raízes profundas que fundamentam os fatos. O rizoma, ao contrário da árvore, dá-se desordenadamente, faz-se num crescimento horizontal e na superfície, proporcionando uma entrada na realidade sem portas preestabelecidas. O rizoma não admite normas regulares e desenvolve-se de nó a nó, de tema a tema, de conceito a conceito, aleatoriamente. Traçar um percurso rizomático seria estar sempre entre e, assim, destituir o fundamento, a ontologia, anular o começo e o fim, desenvolver pensamentos como ervas na superfície, livres, adquirindo velocidade, conformando espaços lisos, não arborescentes. Acredita-se, portanto, que o método cartográfico, no sentido deleuzeano do termo, possa contribuir para a configuração de processos constituintes, nos quais possamos vislumbrar maneiras de mapear, de registrar e de criar novas realidades, de forma colaborativa.

Unindo o método da copesquisa com o método cartográfico, acredita-se na realização de uma copesquisa cartográfica fazendo aflorar as diferenças, os antagonismos, as singularidades, os híbridos, as complexidades e o que escapa ao modo capitalista de subjetivação e de produção espacial.

É possível imaginar também a cartografia para além de ser um método de investigação que envolve uma experiência cotidiana, dissolvendo as relações entre micro e macropolítica, entre sujeito pesquisador e objeto pesquisado, e existindo como um dispositivo que compõe as metodologias e as estratégias como maquinação e agenciamento de ações de copesquisa cartográfica. Dessa maneira, poderíamos compreender que os dispositivos de ativismo cartográfico fazem parte do leque de possibilidades de pesquisa multitudinária já que a multidão, enquanto organização biopotente, é o que pode construir uma resistência positiva, criativa e inovadora, produzindo e sendo produzida pelo desejo do comum.

Artigos, textos, manifestos e declarações, conceitos e teorias irão surgir ao longo do trabalho e não possuem um tempo exato dentro da pesquisa. Também iremos utilizar os dispositivos que envolvem a produção de mapas territorializados que se desdobram em mobilização de atores envolvidos nas lutas e disputas territoriais, já que parte deles farão parte de workshops com atores envolvidos ao longo do processo. Acredita-se que elaborar um mapa territorializado coletivamente implica sintetizar e confinar situações complexas, em constante movimento, em uma espécie de diagrama.

Processo da copesquisa cartográfica

Base do método (ou anti-método) da copesquisa cartográfica com relação ao processo específico de preparação para o mapeamento territorial georreferenciado que é apenas um dos modos (dispositivos, conjunto de atividades tecnopolíticas) de realização da cartografia tomando como exemplo uma etapa da disciplina Cartografias Emergentes que realiza uma cartografia em Izidora (ocupações Vitória, Esperança e Rosa Leão): 1. Leitura de textos e debates sobre o tema a ser tratado, nesta caso, a cultura e suas especificidades no sentido político do ativismo (o que queremos ressaltar deste território, tendências da narrativa) + características singulares de modos de vida nas ocupações (sincretismo religioso, culturas híbridas, inteligências coletivas, gambiarras como táticas e inventos, brincadeiras, outras espacialidades do comum + 2. Preparação de informação com mapas e dados + discussão com alunos, bolsistas, pesquisadores, parceiros + redefinição de algumas categorias iniciais (porque ao longo do processo outras categorias surgirão e serão incorporadas no mapa base do trabalho); divisão da turma em 3 grupos heterogêneos; 3. Mobilização nas comunidades e contato de agendamento com grupos envolvidos; 4. Visita ao território, conversas com atores da comunidade, derivas conduzidas por mapas impressos (canetinhas com legenda para o que vai ser mapeado); registros diversos com câmeras de vídeo e de fotografia; desenhos; etc. Preparar para todo tipo de imprevisto, imaginar que o processo é tão importante quanto alguns objetivos iniciais; 5. Transferência dos dados coletados no mapeamento físico e coletivo, realizado nos territórios das comunidades e dos grupos envolvidos no programa para o crowdmapa (mapa territorial georreferenciado) criando um mapa em plataforma digital. OBS: também pode ser agendado com a comunidade do território mapeado um workshop para que todos possam aprender a utilizar os dispositivos e apps de georreferenciamento através de workshops no laboratórios da própria escola de Arquitetura (neste caso funciona como transferência de conhecimento técnico - tecnologia social - para que os parceiros possam aprender a desenvolver mapas dentro de seus outros interesses, compreendendo que ensinar a ocupar os mapas é também empoderar as comunidades e grupos parceiros; 6. Produção de peças gráficas que contenham infográficos e diagramas (conjuntos de mapas, desenhos, textos, fotos, etc) que sintetizem todo o processo e produzam um material como resultado que possa ser distribuído tanto na comunidade acadêmica quanto nas comunidades e nos grupos parceiros, assim como possam ser utilizados em peças de representação jurídica.